Os efeitos da Educação sobre
a mobilidade social ascendente em Portugal estão de momento na ordem do dia
graças a um estudo recentemente dado a conhecer pela Fundação Francisco Manuel
dos Santos.
Nele se conclui, uma vez
mais, que entre nós existe uma importante correlação positiva entre o nível de
estudos e as probabilidades de emprego e de remuneração, sobre prémios que
justificam amplamente a vantagem de se concluir o ensino superior, ao menos o
primeiro ciclo. Também se repete a constatação de uma relativa inércia
social, mais elevada no nosso país do que em grande número dos outros
membros da União Europeia (UE): a probabilidade de os nossos e as nossas jovens
completarem um grau de ensino superior está muitíssimo dependente do facto de a
geração anterior o ter igualmente conseguido. Não averiguámos se, entre os
objectivos do estudo, constava a reafirmação da bondade da teoria do “investimento
em capital humano”: a ser assim, os autores tê-lo-iam conseguido plenamente.
Só que…tal reafirmação é
válida apenas no âmbito dos
indivíduos que, tendo conseguido completar o ensino superior, não terão tido igualmente
dificuldade em encontrar um emprego, sendo este também adequadamente
remunerado.
Mas quantos são estes
a que respeitam aquelas conclusões? O relatório da OCDE Education at a Glance 2017 (EAG 2017), dado a conhecer ontem e cuja
leitura online pode ser feita aqui,
elucida-nos a respeito desta e de outras questões que os poderes públicos e a
responsabilidade social não poderão deixar de ter como foco.
Consideremos, antes de mais,
a taxa de entrada no ensino superior no contexto da OCDE:
Figura 1: Taxa de entrada no ensino superior, 1º ano/1ª vez, em 2015 - selecção de países
Fonte: OCDE, EAG 2017: 286
A figura acima espelha a inferioridade do nosso País relativamente ao acesso ao ensino
superior, tanto no contexto da EU-22 como no da própria OCDE.
Segundo o mesmo relatório, também
a taxa de emprego dos detentores do ensino universitário era, em 2016,
bastante inferior à das médias da OCDE e da EU-22 (EAG 2017:90)[1]. Sobre a remuneração
relativa dos “melhores investidores em educação” não valerá a pena determo-nos
neste apontamento.
E quanto tempo terá
demorado a obter o primeiro emprego? Uma correcta análise de investimento
levará a que tenha de se descontar os potenciais benefícios e imputar os custos
inerentes a um primeiro, segundo… anos em que o emprego tarda a chegar.
Continuando a nossa análise,
convirá agora perguntar: quantos são, então, os portugueses e as portuguesas
que concluem o ensino superior (1º ciclo)? Antes de mais, convém referir que
Portugal continua a deter uma das mais baixas taxas de conclusão deste
grau: 35% em 2016, contra as médias de 40% e 43% relativas à UE22 e à OCDE,
respectivamente.
E se considerarmos, agora, a
população residente? Segundo o EUROSTAT, no escalão jovem – 18 a 24 anos
– as taxas de conclusão do ensino secundário eram, em 2016, 55,6% para os
nacionais e, apenas, 52,2% para os detentores de outra cidadania.
Simetricamente, a taxa de
retenção/desistência global do ensino secundário foi de 15,7% em 2016, a
mais elevada da UE segundo EAG 2017. Confirmando resultados anteriores,
Portugal também apresenta das mais elevadas taxas de população, entre os 15 e
os 34 anos, que não trabalha nem estuda (NTNE): em 2016, 13,2% dos
nacionais encontravam-se em tal situação, a par de 18,2% relativos aos membros
de outras cidadanias.
Os excluídos do
“investimento” em educação, ou seja, aqueles a quem não se aplicam as
conclusões optimistas iniciais, são, efectivamente, muitos, apesar de tímidas
melhorias que vêm a verificar-se. A educação como “elevador social” parece
apenas funcionar relativamente à percentagem da população à partida já mais
favorecida, desde logo em termos da escolaridade média da família de
origem.
Já agora, conviria que se
pudesse dispor de informação e análise sobre um aspecto, o da resiliência social,
de certo modo simétrico: qual a percentagem de cidadãos e cidadãs, e também de
residentes em geral, que consegue completar o ensino superior sendo filhos de
pais e mães com habilitações inferiores àquele nível? Esta informação não está
disponível relativamente a Portugal na presente edição do EAG, embora a OCDE a
tivesse já disponibilizado em edições anteriores. Periodicamente, a Direcção
Geral de Estatísticas da Educação e Ciência do Ministério da Educação ( http://www.dgeec.mec.pt/np4/home) publica
informação a este respeito e, para os anos para os quais há dados, pode
constatar-se ser muito elevada aquela taxa de resiliência.
Em nossa opinião, estes
aspectos deveriam dar que pensar aos decisores políticos. Pensar e… agir,
no sentido de cortar o círculo vicioso que limita o efeito de ascensor social
da educação aos indivíduos que menos dela precisariam.
[1]
Considerando só a população dos
25 aos 34 anos, observa-se, por sua vez, que a taxa de emprego dos que
detêm habilitações inferiores ao ensino secundário tem sido, por regra, das
mais elevadas da OCDE – a segunda mais alta, depois da Islândia, em 2016, muito
pouco tendo descido o correspondente valor entre 2005 e aquele último ano…
Sem comentários:
Enviar um comentário
Os comentários estão sujeitos a moderação.