O
Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE, na sigla inglesa) acaba de
apresentar o indicador compósito anual que mede, para os diferentes Estados
Membros (EM), a situação relativa de mulheres e homens face a oito importantes
domínios da vida social e económica. O Indicador de Igualdade de Género, assim
se chama, mede as diferenças de género nos domínios do trabalho, rendimento,
conhecimento, usos do tempo, exercício do poder e saúde e monitoriza ainda os
progressos verificados quanto a violência de género e desigualdade múltipla (http://eige.europa.eu/gender-equality-index).
Como
sucede com todos os indicadores compósitos, também a este se dirigem várias
críticas. Antes de mais, a da possibilidade efectiva de medir a
(des)igualdade de género, tema de tão grande complexidade dadas as múltiplas
dimensões envolvidas; algumas das quais, estreitamente associadas a domínios
como os da Psicologia ou da Cultura, prestando-se, efectivamente, muito pouco à
quantificação. Por outro lado, coloca-se a questão de saber que peso atribuir
aos diferentes subdomínios envolvidos, 31 ao todo, se o mesmo ou, pelo
contrário, ponderadores de diferente magnitude. Há quem critique também a
possibilidade de estabelecer uma medida comum para as realidades tão diferentes
dos 28 EM em presença.
Cientes
de toda esta argumentação, consideramos que mesmo assim é importante ter em
conta este Indicador e o correspondente relatório já que em termos das tendências
médias ele se afigura muito significativo. O panorama da União Europeia (UE)
neste domínio é um clássico: muito maior igualdade de género nos países
nórdicos, seguindo-se a europa central e, por fim, os estados bálticos, países do
leste europeu e… Portugal:
Fonte: EIGE (2017)
Apesar
dos progressos verificados no nosso País quanto a este Indicador, o certo é que
temos ainda um grande caminho a percorrer. Com um valor de 0,56, contra 0,662
na média da UE (e 0,83 na Suécia), relativamente a 2015, é nos domínios do
exercício do poder, dos usos do tempo e do conhecimento que se verificam entre
nós as mais acentuadas diferenças de género: nas assembleias regionais e nos
gabinetes ministeriais o peso relativo dos homens é bastante superior a 70% e
mesmo na Assembleia da República se está ainda bastante longe da paridade já
que só cerca de 33% dos deputados eram mulheres, em 2015.
O uso do tempo
mostra-se igualmente bastante mais desfavorável às mulheres, sobretudo no que
tem a ver com o apoio a crianças, idosos e incapacitados e, muito
especialmente, no que respeita às chamadas tarefas domésticas[1]. Quanto aos dois sub
indicadores relativos ao conhecimento – as percentagens de diplomados pelo
ensino superior e de população com 15 ou mais anos em programas de educação
formal ou não formal – as posições relativas apresentam-se simétricas, com o
primeiro indicador a revelar uma superioridade relativa das mulheres e o
inverso no segundo.
Mas
mesmo nos domínios em que o Indicador revela níveis mais elevados de paridade,
os da saúde e do trabalho, a posição relativa do nosso País se destaca face à
média da EU. A respeito daquele segundo domínio, cujos sub indicadores são a
taxa de emprego em equivalente a tempo inteiro (ETI) e a expectativa quanto à duração
da vida activa, constatam-se resultados dignos de nota:
-
em ambos os casos, e para os dois sexos, os valores percentuais em Portugal são
superiores aos da média da EU;
-o
gap de género é mais elevado no
primeiro sub indicador, cerca de 10 p.p. a mais nos homens do que nas mulheres,
entre nós, e aproximadamente 17% no mesmo sentido na média da EU;
-
a expectativa de duração da vida activa é superior em Portugal – mais 3% de
mulheres e mais 0,5% de homens com mais de 15 anos prevê trabalhar durante toda
a sua vida activa, em Portugal, face à expectativa correspondente na EU.
Como
pode ver-se, são múltiplas as direcções e longo ainda o caminho a percorrer
pelas políticas públicas e, especialmente, pelos homens e pelas mulheres no
sentido da paridade de género.
[1] Para um maior aprofundamento deste aspecto, ver H. Perista e outros (2016), Os
Usos do Tempo de Homens e de Mulheres em Portugal, CESIS & CITE,
Lisboa, disponível em http://www.cesis.org/admin/modulo_news/ficheiros_noticias/20170201142706-1inut_livro_digital_final.pdf.
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