02 abril 2012

Crise e risco de pobreza

Os últimos dados do Eurostat sobre risco de pobreza permitem tirar algumas conclusões, ainda que não sejam totalmente esclarecedoras, visto que se reportam a 2009 e 2010 (ou seja, referem-se aos rendimentos anuais de 2008 e 2009), não permitindo averiguar sobre o real impacto da crise sobre a pobreza.

Assim, se a taxa de rico de pobreza em Portugal se manteve idêntica em 2009 e 2010 à de 2008 (cerca de 18%), merece destaque o facto da mesma taxa, antes das transferências sociais, ter subido significativamente, de 24,3% para 26,4%, de 2009 a 2010. Este aumento de 2,1 pontos percentuais situa-se entre os mais elevados da zona euro, sendo apenas suplantado pelos acréscimos verificados em Espanha (+3,7), Eslováquia (+2,7), Lituânia (+2,4) e Eslovénia (+2,2).

Sendo assim, podemos concluir que a taxa de pobreza teria sido ainda maior, no caso de se ter dado uma redução nas transferências sociais. No entanto, a diminuição que se veio posteriormente a assistir nas prestações sociais, leva-nos a admitir que o efeito corrector da Segurança Social vai passar a ser menor, fazendo elevar a taxa de risco de pobreza no futuro.

Pode, contudo, acontecer que a taxa de risco de pobreza venha afinal a situar-se a nível idêntico ou mesmo inferior ao registado 2010. Isto, em resultado da definição da referida taxa (%de pessoas com um rendimento disponível equivalente abaixo de 60% do rendimento mediano disponível equivalente nacional). Como tem havido redução de salários e de pensões, poderá acontecer que o rendimento mediano de 2011 seja inferior ao do ano anterior, o que fará baixar o limiar e a taxa de risco de pobreza. Recorde-se que aquele limiar já era muito baixo em Portugal (5 207 euros anuais, em 2010), valor substancialmente inferior aos dos países da UE17 e, mesmo, abaixo do da Eslovénia (7 042 euros).

A interpretação das estatísticas é afinal mais complicada do que se poderia esperar!

5 comentários:

  1. Estes esclarecimentos técnicos são muito úteis para sabermos de que falamos ou, ainda mais, para podermos criticar certas afirmações que nos chegam fora dos respectivos contextos e enquadramentos precisos quanto aos tempos a que se referem e aos conceitos em que se baseiam.
    As estatísticas são úteis mas é preciso saber interpretá-as.

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  2. O artigo leva me a pensar no mesmo de sempre... 500euros de salário, o que muitos patrões ainda consideram ser um bom, na realidade as pessoas limitam se a sobreviver enquanto que os lucros das empresas cada vez são maiores..
    Dário Araujo
    http://www.negocioproprio.com.pt/

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    1. Independentemente das considerações justas sobre o salário mínimo,é preciso não meter as empresas todas no mesmo saco!

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  3. A interpretação das estatísticas não parece complicada, desde que haja dados. Quando muito pode ser preciso repensar o indicador do limiar de risco de pobreza em situações como a de Portugal hoje.

    Nas questões do risco de pobreza os dados têm andado muito atrasados e ao sabor do poder político.

    Seria exequível existir um observatório da pobreza que não dependesse do estado e fosse orientado para recolher as estatísticas e manter a opinião pública a par da situação dos mais desfavorecidos?

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    1. Actualmente, é o EUROSTAT o responsável pelos conceitos, metodologia e forma de recolha da informação sobre o risco de pobreza, em todos os Estados membros. Isto não impede que cada país apresente dados com base nos conceitos e métodos que considere mais adequados às especificidades nacionais, desde que publicite os pressupostos de que se parte.

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