05 março 2018

Ecologia, ambiente e economia

Acabo de ler, com muito gosto e proveito, o artigo que, com este título, o Professor Américo Pereira publicou recentemente no site do secretariado da pastoral da cultura. Nele se fundamenta, do ponto de vista filosófico, a relação ontológica que existe entre estes três termos.

O artigo serve para evidenciar que, na compreensão da actual crise ecológica, o primeiro grande erro humano é ontológico e consiste na separação maniqueia entre a humanidade e o restante, a dita «natureza», como se houvesse uma descontinuidade ontológica entre estes dois âmbitos, como se constituíssem verdadeiros mundos separados. Ora, a primeira evidência ontológica é que só há um mundo

Esquecer este princípio ontológica tem implicações sérias para todo o agir humano, incluindo a economia ou seja a gestão ordenada dos recursos com vista ao bem de todos os seres, humanos e não humanos.

Em rigor, não deveria ser concebível uma economia discernível do bem comum, o bem de cada ser e de todos os seres e, obviamente, por maioria de razão, não deveria ser concebível uma economia inimiga da ecologia.

Contudo, temos de reconhecer que a realidade tem uma bem diferente configuração, como as suas múltiplas disfuncionalidades evidenciam.

Evocando o pensamento de Cerqueira Gonçalves, o Autor recorda que a raiz destes males decorre da vitória de alguns, na sua competição egoísta com os outros, o que conduz a actos de predação de uns em relação a outros, seres humanos e não-humanos. Através da violência, o predador humano é esse que se apropria de possibilidades que não lhe competem.

Esta é a razão de a economia real ser, não uma ecologia aplicada ao governo das relações entre os seres, universalmente, mas uma real sucessão e concomitância de atos de predação de uns seres relativamente a outros: de seres humanos relativamente a outros seres humanos, de seres humanos relativamente ao restante dos seres, os não-humanos.

No decurso do texto, Américo Pereira acrescenta:Toda a ação económica que promove não o bem-comum, através da colaboração, mas o bem de algum, único – o tirano – ou de alguns, poucos ou muitos, oligarquia ou maioria – constitui-se como forma predatória, assim, antiecológica.

Resta-me recomendar a leitura do artigo na íntegra e fazer votos de que esta reflexão sirva para uma aliança mais frequente e profícua entre a ciência económica e a filosofia, com bons reflexos na economia real.

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