11 janeiro 2019

A vida para além do PIB

Há cerca de 10 anos uma Comissão Internacional sobre a Medida da Performance Económica e do Progresso Social, coordenada por Stiglitz, Fitoussi e Durand, defendia que não era fácil medir os vários elementos do bem-estar, através de um único número, a exemplo do que o PIB faz ao medir os resultados da macroeconomia. Contudo, o PIB tem sido utilizado como uma proxy, tanto para medir o bem-estar económico como o bem-estar social. Ora, o PIB não foi desenhado para tal, pelo que tem que ser complementado com outros indicadores, que permitam reflectir a distribuição do bem-estar e a sua sustentabilidade, através das respectivas dimensões sociais, económicas e ambientais, designadamente, a saúde, a educação e o meio ambiente.

No seguimento do relatório então produzido, a OCDE construiu um índex que contém uma série de medidas destinadas a reflectir uma concepção mais alargada do bem-estar. Seguiu-se-lhe a constituição de um Grupo de Peritos de Alto Nível para Medir a Performance Económica e o Progresso Social, que publou um relatório, denominado “Beyond GDP: Measuring What Counts for Economic and Social Performance” (aqui).

As conclusões do Grupo são tanto mais pertinentes, quanto hoje se sabe que vários indicadores mostram que a crise de 2008 foi mais profunda do que o que mostram as estatísticas do PIB e que os governos deveriam ter respondido diferentemente para mitigar os seus impactos negativos.

O Grupo avalia os progressos feitos desde 2009 na medida do bem-estar e detecta as áreas a descoberto. Refere que os Objectivos para o Desenvolvimento Sustentável da Nações Unidas vão mais longe do que relatório inicial de Stiglitz, Fitoussi e Durand, mas as suas 169 metas políticas e 200 indicadores para a monotorização são em número excessivo, o que obriga os países a escolher as suas prioridades dentro da agenda global. Muito particularmente, os países desenvolvidos deveriam aumentar a sua capacidade estatística em áreas como as desigualdades económicas e o clima. A insegurança económica é outro novo campo a desenvolver. Recorda-se que a crise de 2008 reduziu não só a segurança das pessoas mas, também, a sua confiança, dada a percepção geral de que a crise foi gerida de forma injusta.

Há 12 recomendações para o trabalho futuro e refere-se que os indicadores devem ser ancorados no processo político. São apresentadas as experiências de alguns países para mostrar como é que os indicadores de bem-estar estão a ser usados nas diferentes fases do ciclo económico, o que permite avaliar das vantagens e desvantagens das diferentes estratégias.

Particularmente interessante foi a constituição de um pequeno grupo de países, que formaram uma Aliança Económica para o Bem-Estar (aqui), na esperança de que os governos coloquem o bem-estar no centro da sua agenda.

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