Em meados da semana passada foi objeto de abundante
divulgação, nos media, a existência de contradições entre os resultados de um
estudo publicado em 2010 por dois académicos americanos (relacionando o
comportamento da dívida pública e o crescimento do PIB) e os resultados de um
estudo mais recente, da autoria de dois outros académicos de uma outra
universidade. Eu próprio, num post anterior
já aqui me referi ao assunto.
Acontece que, contrariamente ao que procurei sublinhar
no referido post, os media e outros comentadores, em lugar de
criticar a relação de causa e efeito estabelecida entre a divida e o
crescimento, têm-se entretido, apenas, a chamar a atenção para erros existentes
na folha de cálculo que permitiu deduzir os resultados publicitados com o
primeiro estudo.
Naturalmente que a existência de erros é sempre
lamentável, sobretudo, quando, com base em estudos com erros, se retiram ilações
que vão suportar decisões de natureza política que se diria seriam diferentes
se os erros não existissem.
O que se passou foi que no seu primeiro estudo os seus
autores verificaram que “nas economias onde a dívida pública superava os 90% a
taxa de crescimento média era de apenas 0,1%, em contraponto com crescimentos
situados entre 3% e 4% nos países com dívida abaixo dos 90%”. A inversa, claro
está, que também é verdadeira. Por isso, fica-se sem se saber se é a dívida elevada
que provoca taxas de crescimento reduzidas, ou se são taxas de crescimento
reduzidas que provocam percentagens de dívida elevadas.
No entanto, o que aconteceu foi que, como lhes vinha a jeito,
os nossos, e não apenas os nossos, políticos de pacotilha disseram logo que o
que era relevante era que a dívida impedia o crescimento.
Vem agora e segundo estudo denunciar que nos cálculos
existiam erros e que, pelo contrário, em países com dívida superior a 90%, a
taxa de crescimento era de 2,2%. Não faltou quem retirasse imediatamente a
conclusão de que, afinal, a dívida não impedia o crescimento. Acontece que se a
conclusão retirada do primeiro estudo era um abuso, esta- última não o é menos.
Não é pelo fato de o erro da folha de Excel ter sido corrigido que as
conclusões opostas passam a ser mais justificáveis.
Comparado com o erro que é o estabelecimento de relações
de causa e efeito entre variáveis com uma mera relação estatística, o erro mencionado
na folha de cálculo é uma minudência.
Afinal, os comentadores dos media e outros interessados deixaram-se inebriar pelo embrulho do
presente de Natal sem se aperceberem de que a caixa estava vazia.
Entretanto o estado em que o país se encontra não deixa
de ser, em grande medida, resultado destas brincadeiras. Muitos deveriam, certamente, ser despedidos por terem cometido um erro de tão graves consequências
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