Nos últimos meses têm-se multiplicado as greves em vários sectores de actividade. A mais recente, aliás ainda em curso, ocorre no sector da distribuição e abrange designadamente as grandes superfícies em várias Cidades.
Por definição, uma greve é um sinal de alerta de descontentamento do lado dos trabalhadores relativamente às suas condições de trabalho e nível de remuneração, ainda que possam existir, em casos mais raros, motivações devido a algum problema específico mal resolvido no entender dos grevistas (deslocalizações de actividade, despedimento colectivo, por exemplo).
Com maior ou menor adesão, uma greve representa sempre uma penalização no volume de negócios das empresas afectadas ou na eficiência do serviço público, bem como não podem esquecer-se os efeitos nocivos que provoca nos potenciais clientes e utentes.
Se a empresa é de maior dimensão e grande relevância no conjunto da economia e da sociedade, a ponderação a fazer tem, ainda, de incluir os efeitos indirectos sobre uma dada economia, região ou país, as contas públicas e o desempenho do Governo, em geral. Ocorre lembrar, pela sua actualidade, o que presentemente ocorre na Auto Europa.
O recente fenómeno das greves leva a reflectir sobre as motivações que lhes subjazem. Já surgiram opiniões de alguns comentadores que remetem tais motivações para fenómenos de agitação politico-partidária, rampa de lançamento para futuros actos eleitorais. Não subestimo o argumento, mas não vou por esse caminho, que esconde o fundo da questão.
A meu ver, estas greves vêm pôr o dedo na ferida de um País que continua com elevado grau de desigualdade e forte insensibilidade cívica à injustiça social, a começar pelas empresas e a cultura que informa os modelos e as práticas de gestão, mesmo entre aquelas que publicitam como sua virtude e código de conduta a “responsabilidade social” e/ou o “desenvolvimento sustentável”.
Há falha na responsabildade social quando não se asseguram condições de dignidade humana, incluindo remuneração justa, aos próprios trabalhadores e ao mesmo tempo se remunera generosamente (com elevados salários e diferentes benesses) os quadros superiores e se distribuem lucros excessivos para remuneração do capital, esquecendo as pessoas que os viabilizaram.
Por outro lado, a desigualdade é um factor que mais corrói a coesão social, componente integrante de um desenvolvimento sustentável.
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