12 janeiro 2015

A Grécia escolhe o seu futuro

Um balanço realista do que foi, nos últimos anos, a evolução da economia na zona euro, evidencia um retrato desolador causado pela irracional e injusta política de austeridade, com a estagnação, o desemprego e as crescentes desigualdades sociais a constituírem um séria ameaça para o futuro da União Europeia como um espaço de paz social e de prosperidade.

Surge agora, na Grécia, a proposta de um pequeno partido, o Syriza, para um caminho alternativo, de cancelamento negociado de parte da dívida, mantendo-se no quadro da moeda única. O que, desejavelmente, poderia ser aproveitado pelos líderes europeus como uma oportunidade para mudarem de política é para muitos algo impossível, por razões de ordem legal ou política.

São bem claros os motivos da proposta grega, confrontada com a impossibilidade de, nas condições actuais, com uma dívida de 175% do PIB, agravada com um cenário de deflação, a poder algum dia vir a pagar.

Todos o sabem, e como escreve Wolfgang Münchau no artigo “Political extremists may be the eurozone’s saviours”, publicado no Financial Times on-line de 4 de Janeiro, a política oficial da Grécia e da União Europeia tem consistido em adiar o inevitável, ou seja, aumentar o prazo dos empréstimos e fazer de conta que estes se podem vir a reembolsar.

De resto, como Münchau também refere, mesmo em países em aparentemente melhor situação, como a Espanha, o melhor indicador para avaliar a gravidade da depressão na zona euro, que é a taxa de emprego, caíu de 66% da população em idade activa para 56% entre 2007 e 2014, e na Grécia está abaixo de 50%. E conclui que estes dois países, com as políticas actuais, não têm qualquer possibilidade de voltar a níveis normais de actividade económica dentro de uma geração.

É fácil admitir que este mesmo cenário seja válido para outros países, Portugal incluído, se não nos soubermos mobilizar para exigir as reformas que fazem falta, bem diferentes das que nos querem continuar a impor.

É ainda muito incerto qual será o resultado da estratégia do Syriza, em vésperas de eleições gregas. Como sempre tem acontecido últimamente, será determinante a atitude da Alemanha, perante a timidez ou a passividade dos seus actuais parceiros no Conselho de Ministros.

Certo é que aos gregos ficamos a dever a coragem de avançar com uma proposta realista, e se o risco de contágio do abandono da zona euro por parte da Grécia parece já não ser tão assustador para quem está na liderança da Europa, por serem hoje menores as perdas associadas, talvez tenha sido aberta uma porta para um futuro de esperança em benefício de outros europeus vítimas da austeridade.

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