25 junho 2019

Políticas responsáveis, o que são?


A notícia de que Portugal, no 1º trimestre do corrente ano, tinha registado um excedente orçamental de 0,4% do PIB, (sendo para o final do ano previsto atingir a meta de 0,2% de deficit), desencadeou numerosos comentários por parte das diferentes forças políticas.

Se temos como consensual a necessidade de uma gestão criteriosa da política orçamental, que inclui, entre outras metas, a de procurar conter, dentro de critérios aceitáveis, a dívida pública e o deficit das contas, é significativo o facto de ter sido alcançado aquele resultado ao mesmo tempo que abrandaram as políticas austeritárias aplicadas pelo anterior governo.

O risco que agora deve ser acautelado é o de tomar como objectivo aquilo que é apenas um dos instrumentos da política económica, arrastando como consequência a menorização de outras políticas públicas (saúde, educação, ambiente, etc.) não menos importantes no imediato e a longo prazo.

De facto, a forma como em certos meios de comunicação social se insiste em sobrevalorizar a contenção orçamental, apresentando a sempre renovada ameaça de que o abandono da austeridade levará de novo o país à bancarrota, desvaloriza o impacto positivo na economia alcançado nos últimos anos, precisamente por se ter iniciado o abrandamento de políticas restritivas.

Até que ponto está a comunicação social a cumprir, de forma isenta e imparcial, o seu papel de esclarecimento da opinião pública acerca das políticas defendidas pelas diferentes correntes políticas?

Quem traça a fronteira entre o que apenas pode favorecer uma minoria e o que serve o bem-comum?

O qualificativo “irresponsável”, “irrealista” ou “eleitoralista” é aplicado, na nossa opinião, de forma demasiado ligeira sobretudo quando estão em causa medidas que vão no sentido de melhorar a vida do comum dos cidadãos.

É muito expressiva a forma como o economista Paul Krugman[i] apresenta esta questão: de um lado estão as chamadas “políticas ajuizadas”, defendidas pelos 0,1% dos mais ricos nos EUA, de outro as “irresponsáveis”, dos que “não aprenderam nada com a crise”, sendo certo que ”…the wealthy, on average, push for policies that benefit themselves even when they often hurt the economy as a whole. And the sheer wealth of the wealthy is what empowers them to get a lot of what they want”.

Referindo-se a um conjunto de propostas progressistas que têm vindo a ser apresentadas no contexto das próximas eleições presidenciais, que incluem por exemplo:

- uma taxa máxima de imposto de 70%

- um imposto sobre a riqueza das fortunas muito grandes

- o apoio universal a todas as crianças

- o financiamento por deficit de um programa de infraestruturas,

Krugman não só descarta o qualificativo de “propostas loucas”, dado pelos “suspeitos do costume”, como afirma serem elas fundamentadas na investigação efectuada pelos maiores peritos económicos mundiais.

Esta chamada de atenção para a possibilidade de uma minoria (no caso os super-ricos americanos) definir a agenda do que é realmente importante é também para nós muito oportuna no que parece ser um novo ciclo de políticas públicas.

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