O
acesso ao mercado de trabalho
A situação escolar da
população jovem portuguesa melhorou de forma expressiva, como nos revelam os
indicadores que descrevemos a seguir. O abandono precoce da escola tem
vindo a descer significativamente nos últimos anos, situando-se em Portugal, em
2016, num valor de 14,3% para os jovens dos 18 aos 24 anos, contra um valor
correspondente de 19,8% para a EU-28, no mesmo ano. Embora a ritmo bastante
mais lento, também a percentagem de jovens portugueses que não se encontram
a trabalhar nem em educação ou formação tem diminuído, situando-se em 2016
em 18,2% da população dos 15 aos 34 anos, valor a que correspondem 23,4% para a
média comunitária. Por outro lado, o aumento da percentagem de jovens dos 30
aos 34 anos que detém o Ensino Superior (ES) tem vindo a aumentar ainda
mais abertamente, embora continue a situar-se abaixo da correspondente média
para a EU-28: 34,6% contra 39,1%, em 2016 (EUROSTAT, Education and Training Database (http://ec.europa.eu/eurostat/web/education-and-training/data/database):
Como tem, então,
correspondido esta evolução à da situação dos jovens perante o emprego?
Segundo alguns dos
pressupostos da teoria neoclássica do investimento em capital humano (ICH),
maiores níveis de educação corresponderiam a entradas mais fáceis no mercado de
trabalho (e também a uma expectativa de salários mais elevados), como desenvolve
desde logo Becker (1975).
Ora segundo o EUROSTAT, a taxa de desemprego dos jovens
diplomados pelo Ensino Superior (1º ciclo) que se encontram à procura de emprego há
mais de um e menos de três anos depois de concluído aquele ciclo, é ainda
extremamente elevada em Portugal. Considerando o período de 2007 a 2016,
constata-se que aquela taxa aumentou explosivamente no auge da última crise. E
tendo vindo a diminuir desde 2012, mantém valores ainda bastante superiores aos
do período pré-crise:
Fonte:
EUROSTAT Database
A figura acima ilustra bem a
amplitude do efeito cíclico do desemprego dos jovens licenciados
portugueses. Mas revela também a importância do efeito persistência (ou histerese) do mesmo, cuja descida
praticamente abrandou nos últimos dois anos. Nas palavras de Heidenreich
(2015), trata-se do fim da lua-de-mel da teoria neo-clássica do capital humano,
já que cada vez menos se verifica a correspondência positiva entre mais
educação e mais fácil acesso ao emprego.
Por outro lado, ao contrário
do que sucede com a taxa de desemprego dos ensinos secundário e dos graus
inferiores a este, que têm vindo a decrescer sistematicamente entre trimestres
homólogos no pós-crise, a taxa de desemprego correspondente do ES não
só voltou a subir em 2016 (2º trim.) como se tem mantido superior à do Ensino
Secundário nos períodos homólogos dos últimos 3 anos.
Esta caracterização das
condições de acesso ao emprego dos jovens licenciados portugueses, bem como da
sua evolução cíclica, constitui só por si factor suficiente para refutar aquela
teoria neoclássica do ICH. Com efeito, a natureza segmentada dos mercados de
trabalho, o peso que os factores institucionais detêm nos mesmos, as razões da
viscosidade que os atravessa, entre outros aspectos, têm constituído objecto de
múltiplas análises críticas do pensamento dominante em Economia do Trabalho.
Para já não falar da crítica indispensável à forma como é considerada a
Educação na Teoria ICH, em número de anos de escolaridade: como sabemos, entre
outros, por Hanushek & Woessmann (2010), o que conta é sobretudo a qualidade
da Educação e das competências gerais da população enquanto factores de
desenvolvimento e não o número de anos de estudo.
Assim, constatamos que, por
um lado, o desemprego não afecta de modo igual os diferentes grupos sociais; e,
por outro, que ele penaliza bastante mais os jovens mesmo os de maiores
habilitações.
Além desta crítica ao
pensamento mainstream em Economia do
Trabalho e da Educação, convirá abordar outros aspectos que afectam igualmente
o emprego dos jovens e que a TCH não considera. Fá-lo-emos no post seguinte.
-
Becker, G. S.
(1975). Human Capital – a Theoretical and
Empirical Analysis with Special Reference to Education. NBER. ISBN:
0-226-04109-3. 2nd. Edition;
-
Hanushek, E.A. & Woessmann, L. (2010). Education and
economic growth. In: Peterson, P. (Org.) International Encyclopedia of Education.
Oxford: Elsevier. S. 245-252;
-
Heidenreich, M. (2015). The end of the honeymoon: The
increasing differentiation of (long term) unemployment. Journal of European Social Policy, vol. 25, nº 4.
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