18 fevereiro 2017

O repensar das bases do conhecimento: que a oportunidade não se perca


Notícias recentes falam-nos da inovação prevista no domínio das aprendizagens de base e no do desenvolvimento do processo científico. Referimo-nos, por um lado, à anunciada revisão dos currículos dos ensinos básico e secundário, no seguimento do relatório coordenado por Guilherme de Oliveira Martins; e, por outro, a mais um encontro do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior com vista a promover um amplo conhecimento sobre algumas das suas iniciativas renovadoras, neste caso a dos Laboratórios Colaborativos.

Não iremos aqui reflectir em profundidade sobre cada um daqueles aspectos, já que outros espaços e fora o podem fazer com muito mais pertinência. Afirmamos, antes, a nossa atenção expectante sobre os desenvolvimentos destes anúncios.

Incluimo-nos no grupo dos que lamentam a inexistência de uma abordagem global do processo de conhecimento: que articule diferentes áreas científicas; que, articulando-as, não se limite a justapô-las e, muito menos, a hierarquizá-las para efeitos de financiamento da investigação; que integre de forma consistente os vários tipos de aprendizagens, sequenciais mas também decorrentes de diferentes tipologias de formalização e de relação (ou não) com a profissão. E, especialmente, que tal abordagem decorra, finalmente, de trabalho articulado e consistente entre as diversas tutelas, nomeadamente os Ministérios da Educação e o da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES). É sobretudo relativamente a este último aspecto que se adensa a nossa expectativa.

O MCTES tem vindo a apoiar o ensino superior – especialmente o politécnico – na facilitação do incremento do acesso dos estudantes do ensino profissional, habitualmente minoritários, havendo já resultados positivos em alguns institutos politécnicos. Ao mesmo tempo, tem anunciado medidas tendentes a ”alargar a base social do ensino superior”[1] e a melhorar o enquadramento dos recém-chegados àquele grau de ensino a fim de combater o abandono escolar. Por sua vez, no elenco das competências básicas que agora se propõem para um diplomado com o ensino secundário[2] integram-se dimensões do conhecimento que cada vez mais se consideram indispensáveis para o prosseguimento de estudos superiores: tal é o caso das competências comunicacionais e relacionais, da capacidade de abordagem integrada e supra disciplinar de problemas concretos, da apetência pelo aprofundamento e investigação, para não falar nas competências cívicas, entre outras.

Fundamental seria que nos anunciassem, então, quais as metodologias concebidas e em implementação para promover a articulação e consistência efectivas dos procedimentos de reforma que as duas tutelas – MCTES e Ministério da Educação – tencionam levar a cabo, já que protagonizam a coordenação dos processos chave da constituição do conhecimento.
Que não nos defrontemos com mais uma oportunidade perdida!



[2] E que o documento de referência ilustra com a alegoria ao homem vitruviano, esperando nós que sem obrigar à imobilidade do centro vital…

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