As expectativas
de sobre remuneração
Caracterizando agora a
qualidade do emprego dos jovens portugueses com o 1º ciclo do Ensino Superior
(ES, licenciatura), com idades entre os 20 e os 29 anos, constatamos que cerca
de 17,7% se encontravam, em 2016, em auto emprego. No total de jovens daquele escalão etário, e
no mesmo ano, a percentagem de auto emprego era de apenas 5%. Não dispomos, no
entanto, de informação associada àqueles valores que nos permita saber se
aquela constituía uma opção ou, pelo contrário, um recurso dos jovens
licenciados. A versão optimista indicar-nos-ia que o mercado de trabalho
reconheceria positivamente as qualificações mais elevadas, fazendo-lhes
corresponder, neste caso, níveis maiores de responsabilidade…
Será assim?
Consideremos, então, outros
indicadores da qualidade de emprego dos licenciados, obtidos a partir da base
de dados do EUROSTAT. No 2º trimestre de 2017, 34,3% dos jovens dos 25 aos 34
anos, com emprego, encontrava-se em situação de emprego temporário.
Destes, 40,1% eram licenciados. Encontramo-nos aqui, por certo, perante a
conhecida situação de estágios sucessivos, tantas vezes não remunerados, a que
estes jovens se têm visto cada vez mais sujeitos. Por outro lado, também o trabalho
a tempo parcial (part time) involuntário
parece afectar em Portugal sobretudo a população jovem e até meio do ciclo de
vida activa (25 a 49 anos), já que aqui representa 57,9% do total, em 2016.
Entre os licenciados, aquela percentagem desce, entretanto, para 6,2% e
coincide com a percentagem do tempo parcial involuntário para o total da
população daquele escalão de idades.
Vejamos agora a situação
relativa às remunerações, tal como consta da base de dados da OCDE. No que
respeita às chamadas profissões liberais (professionals),
exercidas quase exclusivamente por licenciados, o ganho horário dos
indivíduos de 30 a 39 anos situou-se, respectivamente, a 52%, 69% e 72% da
média global, em 2006, 2010 e 2014. É sabido como a experiência tem constituído
em Portugal um factor importante na determinação dos níveis salariais e,
portanto, tal poderá explicar, pelo menos em parte, aquele desvio em desfavor
dos jovens, como nos explica Jacob Mincer (1974).
Mas com regimes de emprego
em que predomina o trabalho temporário e a descontinuidade recorrente perante o
emprego, como poderá aquela experiência vir a acumular-se?
E aqui nos defrontamos com
outra das hipóteses fortes da TICH, a do incentivo a prosseguir para estudos
superiores. Ou seja, postula aquela Teoria que, ao aumentar o número de anos de
estudo e, em particular, ao concluir o Ensino Superior (ES), o indivíduo terá
uma expectativa de vir a obter, ao longo de toda a vida activa, um sobre
ganho face, designadamente, a quem detiver apenas o Ensino Secundário. Claro
que para obter níveis de escolaridade mais elevados, o indivíduo incorrerá em
diferentes tipos de custos adicionais – directos, como o gasto em propinas e
livros, por exemplo; e de oportunidade, medidos estes essencialmente pelo
montante de salários não ganhos de que abre mão para continuar a estudar.
Obviamente, se não for estudante trabalhador.
Então, mais nada haveria a
considerar, para decidir optar por aquele investimento, do que a comparação, à
taxa de juro de mercado, entre o montante daqueles custos adicionais e a expectativa
de ganhos adicionais a ocorrerem durante toda a vida activa. Vida activa essa
que é suposta ininterrupta, isto é, sem tempos mortos entre a conclusão da
licenciatura e a obtenção do primeiro emprego, ou de sucessivos estágios nem
sempre remunerados, ou ainda de desemprego ou inactividade em diferentes
momentos da vida activa, situações muito frequentes entre os jovens diplomados
portuguese, como temos vindo a descrever. Situações essas em que as
expectativas referidas se verão pura e simplesmente goradas.
- EUROSTAT Database:
- Mincer, J. (1974). Schooling, Experience and Earnings.
Human Behavior & Social Institutions,
nº2.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Os comentários estão sujeitos a moderação.