Passaram mais de cinco anos sobre a
publicação por Ulrich Beck de um livro, à data muito comentado, em que nos mostrava
o significado e as consequências de uma “Europa Alemã“, não respeitadora dos
princípios que são fundamentais para a confiança dos cidadãos no futuro da
União Europeia.
Certo é que, ao longo dos últimos anos,
sempre foram prevalecendo os interesses económicos imediatos de um grupo de
países mais afluentes, esquecendo, como escreveu Beck, que “a perspectiva
económica é cega e torna as pessoas cegas em termos sociais e políticos”.
O que tem ocorrido no espaço da U.E. parece
estar a despertar iniciativas que, envolvendo a Alemanha e a França, ao mais
alto nível, podem ser o começo de uma verdadeira tomada de consciência dos
riscos de desintegração económica, política e social.
Um primeiro passo foi dado com o acordo de
princípio com vista a uma coligação governamental, a que chegaram os líderes
dos dois principais partidos alemães (SPD e CDU).
Se bem que não haja ainda a garantia de
aprovação pelos órgãos daqueles partidos, estão já a surgir no espaço da comunicação
social opiniões que dão valor a esta iniciativa
Por exemplo, Wolfgang Münchau no artigo “A
German coalition deal to radically reshape Europe” no Financial Times on-line
de 14 de Janeiro, assinala o facto de aquele acordo reflectir uma mudança da
atitude de Merkel, no sentido da sua predisposição para uma maior intervenção
política, incluindo: a adesão a um orçamento da U.E. mais generoso, com maior
contribuição líquida alemã; o apoio a um orçamento visando a estabilidade
macro-económica, a convergência social e reformas estruturais da Zona Euro; o
reforço do Parlamento Europeu para tornar mais democrático o governo da Zona
Euro; uma imposição fiscal mínima sobre as empresas na Europa.
Um segundo passo é o entendimento entre
Macron e Merkel concretizado na intenção de apresentarem, entre Março e Junho
deste ano, propostas comuns para a Zona Euro sobre a União Bancária e a convergência
em matéria de tributação das empresas europeias.
Estará Münchau a ser optimista quando anuncia
serem estes passos o começo de uma nova era na Europa?
Com bons argumentos a favor ou contra as
reformas anunciadas, o que parece certo é o consenso acerca da
insustentabilidade da estratégia que tem vindo a ser seguida pela U.E.
Na verdade, se de há muito os sinais de
insatisfação eram nítidos, tão negligenciada era a dimensão política e social
na construção europeia, a crise de 2007/2008, com o aumento da clivagem entre
países devedores e credores, veio tornar ainda mais urgente prestar-lhes a
devida importância.
Como escrevem os autores de um estudo publicado
em 16 de Janeiro de 2018 por Heinrich – Böll – Stiftung - European Union com o título “ Heading South: Rethinking the
Eurozone”, é importante que a politica europeia a ser aplicada em substituição
da errada politica de austeridade, tenha uma dimensão comparável à da crise,
pois se assim não for será um fracasso.
Defender o Euro como instrumento que pode
alimentar a prosperidade partilhada, implica certamente reformas profundas que
será difícil por em prática por oposição de poderosos interesses instalados.
Mas tomar a sua defesa como um objectivo a
alcançar a qualquer custo é um erro que não pode voltar a ser cometido.
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