09 fevereiro 2014

15,3? ou muito mais?

Em vez da pergunta acima, poderia estar esta outra: os 15,3% fazem esquecer os outros? 

Parece que sim, se virmos, ouvirmos e lermos quer os defensores, às claras, da actual política governamental ou disfarçados de comentadores quer uma grande parte da comunicação social que ecoa as suas mensagens e multiplica o discurso do “valeu a pena”, “estamos a dar a volta”, enfim todo um embandeirar em arco com a descida da taxa de desemprego nos últimos trimestres do ano findo.

Não vou fazer uma análise dessas estatísticas faladas nestes últimos dias como descida “consistente” do desemprego. “Consistente” está aqui entre aspas, por dois motivos: estou a citar o Ministro do Emprego, Solidariedade e Segurança Social (numa conferência na Gulbenkian no passado dia 4) e estou com as “aspas” a discordar de tal classificação. 

Mas também é verdade que não podemos ignorar que um tão forte badalar da tal percentagem de 15,3% não deixa ouvir uma outra -quase 26%, mais precisamente 25,6% da população activa. 

Há, felizmente, na comunicação social, excepções como, por exemplo, o dossier do jornal “Público” da passada 5ª feira, 6, que traz na primeira página o título destacado: “Queda do desemprego não esconde emigração e desencorajados”. 

Se a estes desencorajados (que, querendo trabalhar, já desistiram de procurar emprego) e que se estima serem 274900 - segundo o INE -,  somarmos outros “inactivos indisponíveis” (ninguém seriamente ousará dizer que estes 23700 – dados do INE -  são todos uma “cambada de malandros”…)  e também os  subempregados ou empregados a tempo parcial (de que há exemplos de 2 horas por dia!) e que - dados do INE- serão 263400, teremos que o número de pessoas em situação real de desemprego (embora muitas vezes não “formal” ou oficial)  é de quase 1400000, 25,6%: 1 em cada 4 activos enfrentam uma situação de desemprego! 

A taxa oficial de 15,3% (826700, o que não deixa de ser um número enorme!) não representa, portanto, a verdadeira dimensão do desemprego.

Não é só a dimensão numérica que interessa. É a dimensão humana da situação. É um drama pessoal, familiar, comunitário – convivencial, colectivo, de ansiedade perante a falta de alternativas a um futuro que se percepciona cada vez mais negro. A ansiedade, como sabemos, leva muitas vezes a situações ainda piores os que dela sofrem. E a trágica situação dos desempregados de longa duração com mais de 45 anos de idade (um número aterrador: 525000!) é bem representativa desse futuro negro.

Estes 1400000 (já para não falar da emigração…) significam (mais, são!) o desperdício de recursos humanos - em educação, formação e experiência - que assume para a nossa pátria (deixem-me falar assim!) proporções estratégicas de desastre nacional.

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