26 janeiro 2014

A linha vermelha das praxes académicas

Ontem segui, atentamente, a exibição de um documentário sobre praxes académicas, realizadas em 2010, em várias universidades e institutos politécnicos de todo o País. À hora nobre da televisão, o País assistia a cenas de violência gratuita sobre os mais fracos, a práticas de humilhação e despersonalização de seres humanos em posição de dependência forçada e com manifesta violação de direitos humanos fundamentais (crime público, diga-se!), a cenas de erotismo primário e tudo isto enroupado por gritos de comando pró militar e linguagem imprópria.

Bastaria esta descrição para suscitar reparo e alarme por parte da opinião pública.

O que se passa com os nossos jovens universitários para que tais práticas mereçam o seu acolhimento acrítico? De que arcanos de violência procedem?

E as famílias, por que toleram, com indiferença e conformismo, semelhantes procedimentos que já levaram a consequências trágicas de casos de morte ou de deficiência irreparável? 

E a própria comunidade científica, por que não ergue a sua voz de repúdio pelos degradantes cortejos da chamada queima das fitas onde o que mais sobressai é o álcool a rodos e uma pseudo legitimação de todo o tipo de excessos?

E, finalmente, por que é que as autoridades académicas e o governo não exercem as mediações ao seu alcance e a autoridade que lhes assiste para pôr termo definitivo a práticas arcaicas que em nada contribuem para uma Universidade que seja verdadeiramente sede de saber e de conhecimento ao serviço da formação científica e humana das novas gerações?

Deixo para o final desta reflexão, uma preocupação maior: ao ver o comportamento de submissão dos jovens caloiros à voz de comando do dux e dos seus acólitos, em nome de uma autoridade suprema invisível e de uma hierarquia de reprodução de poder não democrático, senti que por ali perpassavam os mesmos ingredientes psicológicos e ideológicos que levaram ao recrutamento e à formação das juventudes hitlerianas. Razão de sobra para não nos dispensarmos, levianamente, de manter vivo o assunto, até que o mesmo encontre a solução que merece.

1 comentário:

  1. Eu logo que vi e ouvi a palavra "dux", lembrei-me logo do Führer e do Duce. Práticas que veiculam um culto do poder de quem está por cima - hierarquia, o chefe, e que podem ser sementes da "obediência" que despreza a democracia. Aliás - já sem ligação com a questão das praxes - já viram a frequência com que cada vez mais a palavra "chefe" é usada?

    ResponderEliminar

Os comentários estão sujeitos a moderação.