21 março 2013

Aconteceu em Chipre


O Parlamento cipriota recusou na passada terça-feira, o plano europeu de assistência financeira àquele pequeno país, estando ainda por saber como a questão irá ser resolvida.

Martin Wolf escreveu em “Big trouble from little Cyprus” no Finantial Times on-line com a data de 19 de Março, que o imbróglio deve servir de lição sobre o modo como não devem ser tratados os problemas financeiros e das dívidas soberanas.

Entre os erros inventariados por vários analistas à proposta europeia apontam-se os seguintes:

a) uma demonstração de irresponsabilidade por parte dos intervenientes nessa tomada de decisão, sem cuidar do risco de corrida aos bancos, que alastraria a outros estados - membros;

b) um sinal de flagrante incapacidade das instituições internacionais, dos bancos centrais e dos governos, para regularem eficazmente o mercado financeiro, permitindo sistemas regulatórios fracos e, no caso de Chipre, dando origem a um sistema financeiro desmesurado face à economia do país;

c) a admissão, pela zona euro, de não cumprimento da sua obrigação legal, que data de 2008, de proteger os depósitos em bancos, ainda que recorrendo ao instrumento tributário para tentar tornear a ilegalidade;

d) um sinal de que, no futuro, os credores vão insistir para que as medidas para salvar os bancos sejam também financiadas pelos depositantes, ao mesmo tempo que são poupados os investidores em dívida soberana.

Como se não bastassem os erros da decisão em causa, a inqualificável recusa de assunção de responsabilidades por parte dos seus subscritores, ajudou a deitar por terra alguma credibilidade de que os lideres europeus ainda fossem merecedores.

A questão de Chipre, por excepcional que possa parecer, torna ainda mais urgente questionar a deriva não democrática da União Europeia, que servilmente tem vindo a ser consentida: de facto, caíram no esquecimento as advertências que, a este propósito, fez Helmut Schmidt no congresso do SPD, em dezembro de 2011, onde instava a Alemanha a não se deixar seduzir pelo seu poder económico para reivindicar o papel de dirigente político na Europa e advogava a necessidade de regulação do mercado financeiro, bem como a promoção do crescimento e do emprego, como condição para se atingir a consolidação orçamental.

Quando, como no presente, se acentua a perspectiva de poderem não existir condições para os países economicamente mais vulneráveis se manterem na zona euro, com a sua actual configuração, e, por outro lado, não sendo expectável uma mudança das regras de jogo a seu favor, todas as alternativas devem ser equacionadas com seriedade, pois só assim nos poderemos preparar para as suas previsíveis consequências.

2 comentários:

  1. O ultimato do Banco Central Europeu de corte de liquidez a partir da próxima segunda-feira é de muito mau prenúncio acerca do que possa acontecer não só à economia daquele pequeno País, mas em toda Zona Euro; não apenas ao sistema financeiro cipriota e europeu, mas ao projecto político da UE.
    Fica no ar a pergunta: quem responde politicamente perante os cidadãos europeus?

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  2. This is indeed very preoccupying for the reasons highlighted by both Isabel and Manuela. It shows how the financial sector continues to transfer major risks from mismanagement to the public.

    Martin Wolf wrote in his article in the FT of March 17 about a newly published book that is well worth reading by Anat Admati and Martin Hellwig. In their book, "The Bankers' New Clothes: What's Wrong with Banking and What to Do About It," these two highly respected economists argue the importance of adequate equity in banks to support risk exposure. This would entail lower returns for the banks and, hence, lower rewards for bankers. For this reason, the banking sector is fighting against tougher capital requirements and also legislation.

    In his book, "Finance and the Good Society," Robert Shiller discusses the lobbying firepower of the financial sector, which spends $1.4 million a day in lobbying in the US. This contrasts with the $2 million spent per annum by the Americans for Financial Reform lobby group, which is a representative coalition of consumer rights, civil rights, investor, retiree, community, labor, religious and certain business groups.

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