10 maio 2012

A politica de austeridade na opinião de dois economistas: Martin Wolf e Joseph Stiglitz.


A eleição de François Hollande e o propósito por ele manifestado de dar à Europa uma dimensão de crescimento e prosperidade, tem sido ponto de partida para análises muito diversas acerca do que daí pode resultar no tocante a uma nova orientação da politica económica da europeia: um facto irrelevante, um exemplo de irresponsabilidade megalómana, ou, antes pelo contrário, um sinal de clarividência e de coragem para pôr um travão à politica de austeridade a todo o custo que tem sido apresentada como a única via possivel para saír da crise. 

Um artigo de Martin Wolf, publicado a 8 do corrente mês no Financial Times (What Hollande must tell Germany) segue claramente a  segunda corrente de opinião, ao constatar que para muitos países a austeridade os fecha num ciclo de depressão, deflação e desespero, prevendo o colapso da união monetária se continuar a manter-se aquela orientação. E afirma que a última oportunidade de concretizar a mudança necessária repousa nos ombros de François Hollande, o único entre os lideres europeus que tem o desejo e a capacidade para tentar. 

As previsões do FMI sobre a evolução da economia para os países com maiores dificuldades, onde a recessão se instala ou o crescimento económico é muito fraco, e, em especial os dados sobre o desemprego jovem, são qualificados de assustadores: 51% na Grécia e Espanha, 36% em Portugal e na Itália e 30% na Irlanda. 

Este quadro, afirma Martin Wolf, é politicamente perigoso, dada a emergência de partidos cada vez mais extremistas e um sentimento crescente de traição mas é também de recear, do ponto de vista económico, com a perspectiva de emigração dos jovens mais qualificados. 

Criticando a assimetria do processo de ajustamento que tem vindo a ser seguido, penalizador dos países que atravessam dificuldades, bem como a ideia errada de que as reformas estruturais são capazes deprovocar um rápido retorno ao crescimento, considera que Hollande deveria empenhar-se num sério debate com a Alemanha de forma a que esta aceite a melhor solução possivel para vencer a crise, ou seja, um ajustamento simétrico dos desequilibrios, contribuindo os países sem problemas com alguma inflação salarial, paralelamente a reformas nos países mais fracos. 

Outras alternativas que enumera seriam sempre piores, por eternizarem desequilibrios financeiros, depressões quase permanentes, ou no limite,o desmoronar da zona euro. 

Na mesma linha de critica à politica de austeridade, que nem sequer permite ultrapassar a crise de confiança, também Stiglitz se pronuncia em artigo publicado no Project Syndicate do dia 7 deste mês intitulado After Austerity. 

Muito preocupado com o desemprego jovem (um sofrimento desnecessário), preconiza a mudança urgente da politica alemã e uma outra actuação das instituições europeias, nomeadamente do BCE e do BEI, por forma a  dinamizar o crescimento e o emprego. 

Stiglitz vai ao ponto de qualificar de criminosa a ignorância voluntária dos lideres europeus acerca das lições do passado. 

Fica o aviso de dois economistas de grande projecção que não pode ser ignorado.

O tempo urge e não se deve desperdiçar qualquer oportunidade : a eleição de Hollande pode ser uma delas, se ele não ficar isolado na vontade que manifestou de quebrar a receita da austeridade nos termos em que tem sido aplicada.

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