25 maio 2011

A VIRTUOSA DO ALEGRETE

Fiz recentemente uma digressão pelo Alto Alentejo, numa zona vizinha de Espanha, tendo entrado pela primeira vez numa povoação chamada Alegrete. Aí conheci uma maravilhosa senhora de 86 anos, certamente merecedora do nome virtuosa, que é o seu.
Outra dama seguramente virtuosa é taberneira na aldeia próxima. Ambas vestem vestidos discretos, mas elegantes. Conversámos como se nos conhecêssemos de longa data.
Parecem felizes, sem complexos, invejas ou amarguras quaisquer.
Por aquelas paragens remotas deste país, com povoações meio abandonadas, em paisagens naturais de beleza impressionante, encontram-se seres humanos preciosos como peças vivas guardadas num museu antropológico.
Também estive em Portalegre, onde assisti à exibição dum excelente documentário de Jorge Murteira sobre os operários que trabalharam na Fábrica Robinson, criada no século XIX por um inglês e que chegou a ocupar 1600 trabalhadores.
A fábrica produzia diversos artigos de cortiça, e o seu interior que ainda hoje conserva velhos equipamentos sem uso, sugere um cenário da Primeira Revolução Industrial.
A última fase da crónica da agonia da fábrica, até à falência e encerramento, é exemplo da incúria, incompetência e oportunismo infelizmente ainda frequentes no meio empresrial português.
Porém, as entrevistas dos operários exibidas no documentário são testemunhos comoventes daquilo que os muitos anos vividos na fábrica significaram de essencial para aquelas pessoas humildes, mas duma infinita coragem e estranho fascínio por tão duras condições de trabalho.
É este Portugal profundo que precisamos de conhecer e recuperar.

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