Hoje
fui reler um texto de Stefano Zamagni sobre a “Economia de Francisco” escrito
em Assis, em 19 de Novembro de 2020, mais de 18 meses depois da mensagem do
Papa Francisco a lançar esse evento que se transformou em movimento.
Em
apenas pouco mais de 2 páginas, Zamagni sublinha algumas das relevantes
implicações do apelo do Papa a “avançar-se para um tipo diferente de economia,
uma economia que inclua e não exclua, que humanize e não desumanize, que cuide
do ambiente e não o despoje”.
Seguem-se
seis chamadas de atenção sobre as tais relevantes implicações de uma economia
diferente, “a economia de Francisco”, não o Papa, mas Francesco, il poverello.
A
primeira chamada de atenção tem a ver com o conceito de valor, não apenas o reducionista e exclusivo preço de mercado,
próprio de uma mentalidade ”extractivista e tecnocrática” em que, por exemplo,
“os bens relacionais, os bens de cuidado, os comuns, os bens de gratuitidade,
etc.” não entram na métrica do PIB.
A
segunda chamada de atenção lembra a necessidade de as empresas não terem como
finalidade (purpose) apenas lucros,
mas deverem também ter em consideração “o bem-estar de todos os interessado e
atingidos”, os stakeholders, devendo
os investidores focarem-se no longo prazo e no impacto social e ambiental do
investimento.
De
acordo com a terceira chamada de atenção, é urgente que “os sistemas de
contabilidade financeira incluam métrica social e ambiental e que o impacto de
investimento se torne uma norma de comportamento”.
A
quarta chamada de atenção lembra o papel dos governos no estabelecer das regras
do que Zamagni designa de “jogo económico com vista ao bem comum e não aos
interesses de grupos particulares de actores”, pois “sem regras a globalização
torna-se uma selva”.
A
sexta chamada de atenção sublinha que a abordagem de “desenvolvimento humano
integral" da Laudato sì deve ser
participativa e não paternalista.
Deixei
para o fim a quinta chamada de atenção, pois foi ela que me levou a partilhar
este post. E diz assim:
“Querer
fazer a coisa certa é algo diferente de saber que coisa certa fazer, e isto por
sua vez é algo diferente de fazer realmente a coisa certa”. Como o português
aqui não capta o eloquente jogo de expressões, perdoe-se-me a transcrição do
texto inglês: “Wanting to do the right thing is something different from
knowing the right thing to do, and that in turn is something other than
actually doing the right thing.”. Depois Zamagni lembra que é indispensável o
contributo das Universidades e centros de investigação para ver o mundo como
ele é, mas também “imaginar como ele devia ser”. Concordo, claro. Mas já que
falamos de nova métrica do PIB e, sobretudo, de novas regras, aí o querer acaba por ser mais importante
que o apenas saber. Como é que “medimos” se o querer está de facto a querer fazer (e a estimular que se faça)
o que é certo? Antes de mais – e isto é um início de resposta –, se nós, os
cidadãos (que também somos responsáveis pelas práticas e pelo voto), virmos e
sentirmos que há coerência nas
medidas tomadas. E, já agora, que se sinta convicção quando se fala em valores
que fundamentam essas medidas. Diria que precisamos do que eu arriscaria designar
indicadores de querer para uma
economia que vá no sentido da “Economia de Francisco”. E, quanto a indicadores,
repito o lugar-chave de indicadores de coerência. Parece-me que há aqui
trabalho para, entre outros, psicólogos sociais, sociólogos, economistas, gente
de ciência política.
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