Através
da iniciativa NESET – Grupo de Peritos sobre a Dimensão Social da Educação e da
Formação – e tendo por autor Thomas
Farnell, a Comissão Europeia acaba de editar um relatório de título Community engagement in higher education: trends,
practices and policies – Analytical report. [1]Embora
o autor se refira ao facto de a concepção do relatório ter precedido a
emergência da pandemia COVID – 19, ele reflecte já sobre um conjunto de
dimensões que esta virá a tornar mais exigentes e sobre as quais haverá que
intervir com maior atenção.Trata-se, em resumo, da velha questão do compromisso
social da Universidade com a comunidade, tema desde sempre debatido e
considerado consensual mas que, na prática, se revelou sempre aquém do que era
maioritariamente previsto. A este respeito, escreve o autor:
Na
prática, no entanto, [a terceira dimensão da universidade] o foco tem vindo a
restringir-se ao papel e ao impacto económico das universidades. [Ora] o papel
da universidade no reforço dos valores democráticos e do envolvimento cívico, na
resposta às necessidades dos grupos mais vulneráveis, na contribuição para o
desenvolvimento cultural, justificando [técnica e cientificamente ] as
políticas públicas e indo ao encontro dos grandes desafios sociais não tem
constituído propriamente uma prioridade evidente (pg 6).
Ora
este contributo mais amplo do ensino superior está de novo a ser requisitado
agora que, para além dos grandes problemas societais das alterações climáticas,
das migrações e do envelhecimento populacional, se agravam processos como o das
desigualdades sociais de rendimentos, da diminuição da coesão social, da perda
de confiança na política – e na própria instituição universitária… - e do
agravamento dos populismos.
Há
cinco domínios prioritários onde se considera, então, que a universidade deve
reforçar o seu compromisso com a comunidade:
- o do ensino e aprendizagem, que deverá
combinar o ensino tradicional com o serviço a prestar à comunidade e a
participação cívica;
- o da investigação de base comunitária, cuja
principal motivação deverá consistir na procura e obtenção de respostas para as
necessidades da comunidade, para a validação do conhecimento comunitário e, em
suma, para a mudança social;
- o da troca de serviços e de conhecimento, em que o
autor refere a prestação à comunidade de serviços de consultoria, MAS a que
acrescentaríamos a apropriação pela universidade de conhecimento socialmente
útil produzido pela comunidade;
- o envolvimento directo dos estudantes nestes
processos, eventualmente através das suas organizações;
- a abertura e oferta dos recursos universitários – ex: palestras, conferências, mas também espaços de reunião e debate, bibliotecas…- à comunidade.
Como é sublinhado, este processo de alargamento do compromisso social da universidade não deixará de se deparar com obstáculos diversos, de entre os quais a inércia da instituição e o sub-financiamento crescente de que é vítima.
Mas com os desafios que presentemente se colocam, como o da presente pandemia, o conhecimento universitário será/só deveria ser... legitimado se resultar da busca de respostas para os problemas prementes e a confiança na universidade reganhar-se-á na medida em que ela saiba mostrar-se socialmente útil e comprometida. O financiamento deveria sublinhar este maior envolvimento comunitário e, numa palavra, as políticas públicas de enquadramento do ensino superior e da investigação deveriam contribuir para um encaminhamento nesse sentido.
Será que existe a indispensável vontade
política?
[1] Farnell, T. (2020).
‘Community engagement in higher education: trends, practices and policies’,
NESET report, Luxembourg: Publications Office of the European Union. doi:
10.2766/071482.
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