20 julho 2020

O Compromisso Social da Universidade e o COVID-19


Através da iniciativa NESET – Grupo de Peritos sobre a Dimensão Social da Educação e da Formação –  e tendo por autor Thomas Farnell, a Comissão Europeia acaba de editar um relatório de título Community engagement in higher education: trends, practices and policies – Analytical report. [1]Embora o autor se refira ao facto de a concepção do relatório ter precedido a emergência da pandemia COVID – 19, ele reflecte já sobre um conjunto de dimensões que esta virá a tornar mais exigentes e sobre as quais haverá que intervir com maior atenção.Trata-se, em resumo, da velha questão do compromisso social da Universidade com a comunidade, tema desde sempre debatido e considerado consensual mas que, na prática, se revelou sempre aquém do que era maioritariamente previsto. A este respeito, escreve o autor:

            Na prática, no entanto, [a terceira dimensão da universidade] o foco tem vindo a restringir-se ao papel e ao impacto económico das universidades. [Ora] o papel da universidade no reforço dos valores democráticos e do envolvimento cívico, na resposta às necessidades dos grupos mais vulneráveis, na contribuição para o desenvolvimento cultural, justificando [técnica e cientificamente ] as políticas públicas e indo ao encontro dos grandes desafios sociais não tem constituído propriamente uma prioridade evidente (pg 6).

Ora este contributo mais amplo do ensino superior está de novo a ser requisitado agora que, para além dos grandes problemas societais das alterações climáticas, das migrações e do envelhecimento populacional, se agravam processos como o das desigualdades sociais de rendimentos, da diminuição da coesão social, da perda de confiança na política – e na própria instituição universitária… - e do agravamento dos populismos.
Há cinco domínios prioritários onde se considera, então, que a universidade deve reforçar o seu compromisso com a comunidade:

- o do ensino e aprendizagem, que deverá combinar o ensino tradicional com o serviço a prestar à comunidade e a participação cívica;

- o da investigação de base comunitária, cuja principal motivação deverá consistir na procura e obtenção de respostas para as necessidades da comunidade, para a validação do conhecimento comunitário e, em suma, para a mudança social;

- o da troca de serviços e de conhecimento, em que o autor refere a prestação à comunidade de serviços de consultoria, MAS a que acrescentaríamos a apropriação pela universidade de conhecimento socialmente útil produzido pela comunidade;

- o envolvimento directo dos estudantes nestes processos, eventualmente através das suas organizações;

- a abertura e oferta dos recursos universitários – ex: palestras, conferências, mas também espaços de reunião e debate, bibliotecas…- à comunidade.

Como é sublinhado, este processo de alargamento do compromisso social da universidade não deixará de se deparar com obstáculos diversos, de entre os quais a inércia da instituição e o sub-financiamento crescente de que é vítima.

Mas com os desafios que presentemente se colocam, como o da presente pandemia, o conhecimento universitário será/só deveria ser... legitimado se resultar da busca de respostas para os problemas prementes e a confiança na universidade reganhar-se-á na medida em que ela saiba mostrar-se socialmente útil e comprometida. O financiamento deveria sublinhar este maior envolvimento comunitário e, numa palavra, as políticas públicas de enquadramento do ensino superior e da investigação deveriam contribuir para um encaminhamento nesse sentido.

Será que existe a indispensável vontade política?

 

 




[1] Farnell, T. (2020). ‘Community engagement in higher education: trends, practices and policies’, NESET report, Luxembourg: Publications Office of the European Union. doi: 10.2766/071482.


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