10 agosto 2020

Condições sociais e Ensino Superior em Portugal – “uma no cravo, outra na ferradura”…



As notícias dos dois últimos dias dão-nos conta de um acordo em estudo entre o Ministério da Ciência e do Ensino Superior e os donos dos hostéis e outras residenciais com vista a melhorar as condições de alojamento no Ensino Superior.

Como tanto se tem referido, a questão do alojamento, a sua escassez e especialmente o seu custo para os alunos deslocados, têm vindo a constituir um dos maiores encargos para os estudantes deste grau de ensino e suas famílias, traduzindo-se muitas vezes num obstáculo ao prosseguimento de estudos. Deve dizer-se em abono da verdade que o Governo já tinha começado a providenciar soluções para esta questão ainda antes da pandemia do COVID-19, com iniciativas tendentes a aumentar o número de residências e a equipar alguns edifícios públicos devolutos de forma a poderem cumprir aquela função.
Com a pandemia e as indispensáveis medidas de segurança, o problema dos alojamentos agrava-se face à necessidade de diminuir o número de residentes por equipamento. Nesse sentido, é de saudar esta medida em vias de concretização.

Significará, então, que estamos finalmente perante uma estratégia consistente de reforço da inclusão no e pelo Ensino Superior?

Infelizmente, não nos parece ainda ser o caso. Por um lado, a política de bolsas para estudantes deste nível de ensino continua a mostrar –se um instrumento não prioritário, a avaliar pela evolução do indicador “Peso dos bolseiros do Ensino Superior no total de matriculados neste grau de ensino”, tanto no total,  como por subsectores público e privado: segundo a PORDATA, este peso tem vindo a diminuir sempre desde 2017!

Por outro lado, as condições sociais no Ensino Superior, em Portugal, parecem dizer apenas respeito às preocupações dos estudantes e suas famílias. Com efeito, em Apelo Comum recentemente assinado pelos Reitores das Universidades Portuguesas[1], a única menção que é feita a esta problemática limita-se à expressão:

A universidade do futuro é inclusiva e respeitadora da diversidade. Articula a diferença e promove o alargamento do acesso…” (cf. Tese 5.)

É pouco, muito pouco mesmo, quando se sabe –  por análises tanto das autoridades portuguesas como das da U.E., e também através de trabalho de diversos investigadores - que as condições sociais e económicas têm constituído um entrave efectivo a um mais amplo acesso às universidades portuguesas.


[1] Apelo não disponível na página electrónica do CRUP (Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas), publicado no número do Semanário Expresso de 8 de Agosto p.p., pg. 34, sob o título “A universidade portuguesa e o futuro: 10 teses e uma visão comum”.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Os comentários estão sujeitos a moderação.