Num dos últimos números de International Politics and Society, a
deputada alemão ao Parlamento Europeu Jutta Steinruck fez-se eco do debate em
curso entre deputados socialistas e social democratas àquele Parlamento sobre o
Pilar Europeu dos Direitos Sociais (ler aqui).
Sendo de saudar a iniciativa da Comissão Europeia a este nível, conhecida desde
Abril último e a que a Cimeira de Gutemburgo voltou agora a dar novo destaque,
aqueles deputados e alguns analistas críticos salientam, entretanto, a grande
limitação que decorre do facto de as medidas expressas no Pilar não terem força
de lei, não sendo portanto vinculativas.
Especialista
em questões de emprego, a referida deputada indigna-se particularmente com a
deterioração severa da qualidade do emprego que alastra em toda a União
Europeia (U.E.). Salienta a “novidade” dos contratos de trabalho de “zero horas”
que, não especificando o horário de trabalho, permitem sujeitar os
trabalhadores a horários variáveis, da maior instabilidade e normalmente não
acompanhados de outros direitos básicos, como o de licença por doença.
Igualmente
muito preocupante, o falso auto-emprego generalizado só agora parece começar a
ser objecto de preocupação por parte dos reguladores, como nos revelou a
recente perda do recurso por parte da Uber junto de um tribunal do Reino Unido:
a sentença tornou claro que os agentes da acção deveriam ser considerados
empregados e, assim, ter pleno acesso a direitos como os da segurança social,
direitos que a Uber e empresas congéneres vêm insistindo em não reconhecer.
Mais
exemplos se podiam apresentar relativamente a outros direitos sociais, em
matéria de acesso à saúde, à educação, ao alojamento condigno, entre outros
aspectos. Como a mesma deputada refere, a U.E. poderá, efectivamente, vir a
fazer muito pelos direitos sociais dos seus cidadãos, tornando-os em fim
prioritários relativamente aos condicionalismos económicos. Mas isso exige que
a tais direitos venha a ser dada força de lei e que, assim, um qualquer cidadão
comunitário possa fazer valer a sua razão relativamente aos mesmos desde logo
no Tribunal Europeu de Justiça.
Para
tal, torna-se indispensável que o Pilar Europeu dos Direitos Sociais passe a
constituir parte integrante dos Tratados Europeus, como exigem aqueles
deputados e outros críticos.
Oportuníssimo post. Como se diz "de boas intenções está o inferno cheio". E este "inferno" é o da incerteza e angústia de milhões de cidadãos dos países da UE que, nesta matéria, só tem pressionado para reformas de legislação laboral no sentido de liberalização tal que se chega a situações das tais "zero horas" que me fez lembrar a jorna que muitos ansiavam ter, muitas vezes quase por esmola.
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