A
composição da floresta
Não temos ouvido falar de outra coisa
que não seja da culpabilidade das manchas de eucalipto e de pinheiro, na rapidez
da propagação do fogo e nas projeções a grande distância. Se é assim e queremos
que tal não continue a acontecer não parece que não haja solução. Haverá que
moderar as plantações de uns e outros, estudando, em cada área, qual é a
distribuição destes com árvores (folhosas) mais resistentes à propagação do
fogo. Pois é, cá temos de novo a questão das árvores de crescimento lento e da
realização de rendimentos a longo prazo. A grande maioria dirá que a longo
prazo estaremos todos mortos? Perante isto nada pode ser feito? Pode, mas mais
uma vez o Estado tem que ser chamado ao palco. Para fazer o quê?
O
exemplo das celuloses
O exemplo do que fazem as celuloses
talvez pudesse servir de inspiração, não no que fazem mal, mas no que fazem
bem. As celuloses fazem mal a plantação de grandes áreas de eucalipto, mas
foram capazes e encontrar um modelo em que tomam de aluguer os terenos dos
proprietários (que continuam a ser deles) pagando-lhes periodicamente uma
renda, até à data de devolução dos terrenos (infelizmente os terrenos quando
são devolvidos vêm de tal forma exauridos que os proprietários, durante longo
tempo, pouco podem fazer com eles).
A inspiração deveria servir para quê?
Deveria servir para que o Estado pudesse desenhar um modelo de distribuição de
rendas pelos proprietários, de tal modo que, nos seus terrenos, pudessem ser
plantadas as espécies que dificultam a propagação do fogo e, simultaneamente os
proprietários pudessem obter rendimentos equivalentes aos que obteriam pela
plantação das espécies de crescimento rápido. O Estado não pode fazer isto,
porque não tem dinheiro? Tem, há é que o distribuir de modo diferente do que
tem vindo a ser feito, nas várias regiões do país e entre combate e prevenção.
Quanto mais se prevenir, menos combate será necessário, embora se deva gerir
convenientemente as fases de transição entre o fogo que ainda existe e a nova
floresta que apenas começa a crescer.
A
limpeza das matas
Não há tema que tenha sido mais badalado
que o da limpeza das matas. Infelizmente sem quaisquer resultados e com isso
não nos deveríamos surpreender. Pouco importa dizer que antes a limpeza era
feita e que deveria continuar a ser feita, obrigando os proprietários a serem
disso responsáveis. Quem o faz parece
ignorar que antes a limpeza era feita, porque a limpeza produzia benefícios só
por si: os matos e outros detritos obtidos com a limpeza serviam para atapetar,
caminhos, estábulos dos animais e quinteiros.
Hoje é um custo absoluto, porque dos
detritos não se retira qualquer proveito imediato e nem sequer as faladas
centrais de biomassa se encontram acessíveis para os poderem receber. Dir-se-á,
mas apesar de tudo, a limpeza diminui o risco de incêndio e, portanto, a receita
obtida com a venda das árvores permite recuperar os custos anteriormente
suportados. Não é verdade, porque em espaço de minifúndio, a despesa
rapidamente pode superar a despesa.
Para além disso, que importa que eu
faça a limpeza se o vizinho do lado a não faz. Quando se desencadeia o fogo se
o vizinho não tem o tereno limpo, as minhas árvores vão arder, quer eu tenha o
terreno limpo, quer não tenha.
Não há volta a dar-lhe? Há. Torna-se
necessário promover um sistema de limpeza coletiva, de que o Estado não pode
estar alheado. Mais despesa para o Estado? Com certeza, mas se nada vai ser
feito, vem o fogo e a despesa aparece com o combate.
A
árvores em redor das casas
Finalmente as matas em redor das casas. Claro
que é agradável possuir uma casa rodeada pela frescura das sombras e do verde.
Só que, como se tem visto, essas matas não estão imunes aos incêndios que, se
acontecem, vão provocar prejuízos nas outras casas em redor e nas matas
adjacentes. Que fazer?
A moldura legal até já existe, mas
talvez não tenha sido desenhada da melhor forma. A obrigação do abate de
árvores a distância inferior das casas parece uma medida de bom senso, mas nem
sempre assim é. Suponhamos que alguém foi construir uma casa num terreno
adjacente aos das árvores e fê-lo a uma distância inferior a 30 metros dessas
árvores. É o proprietário das árvores que deve proceder, sem indeminização, ao
seu abate, ou são as autoridades municipais que não deveriam ter autorizado a
construção naquele local?
A proibição da existência de árvores em
distância inferior à que tenho vindo a referir (pinheiros e eucaliptos), não significa
que essa proibição abrangesse outro tipo de árvores, por ex., as folhosas:
castanheiros, tílias, plátanos, etc. Para além disso e imediatamente, o que
deveria ser de obrigação estrita era a limpeza dos terrenos próximos das casas,
quer lá estivessem as árvores recomendadas, quer não.
Naturalmente que se percebe, do que foi
anunciado, que se tratou, apenas, de objetivos a atingir. Muito trabalho falta
ainda fazer para, em cada caso, encontrar os instrumentos que permitam que os
objetivos sejam cumpridos, com celeridade, eficiência e eficácia.
Finalizando
Do que fica dito surge como
imprescindível o envolvimento do Estado (não necessariamente o Estado Central)
na gestão da floresta. É um problema clássico de gestão de externalidades, que os economistas bem conhecem e que atrás ficou demonstrado existirem
Todos sabemos que o Governo vai decidir,
hoje, medidas que têm sido pré-anunciadas, como importantes para o combate aos
fogos e para a gestão das florestas. Aguardemos que possam ir no bom sentido e
sejam suficientemente relevantes. O que até aqui foi apresentado como “a
reforma da floresta” é um começo de reforma, mas reforma pouco. As medidas que
ela contém são importantes, mas não é, certamente, por aí que são vão começar a
ver os resultados da prevenção.
Creio que a continuarmos pelo caminho
que até agora tem sido indicado, tem toda a razão o Sr. Primeiro Ministro
quando afirmou: “seguramente situações
como as vividas hoje vão repetir-se”. Certamente que poderia ter encontrado uma
forma menos desajeitada de o dizer.
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