11 setembro 2017

Os autarcas e a economia do futuro

Na sequência da crise financeira desencadeada em 2017 nos Estados Unidos, com repercussão no sistema financeiro mundial e na economia dos vários países, têm surgido múltiplos e diversos estudos que convergem na ideia de que é imperioso encontrar caminhos de transição para novos modelos de desenvolvimento socioeconómico.

Esta convicção é amplamente reforçada com a necessidade de fazer face às reconhecidas externalidades ecológicas associadas ao modelo de crescimento prevalecente, bem como para enfrentar as consequências sociais da revolução tecnológica que se perfila no horizonte e, ainda, para prevenir os riscos de implosão social inerentes à crescente aceleração da desigualdade na repartição da riqueza e do rendimento que vem ocorrendo nos países de economia mais avançada.

Estão os cidadãos, os empresários e os autarcas portugueses sensibilizados para estas problemáticas e com capacidade para fazerem as melhores escolhas com vista à economia do futuro?

Num estudo publicado em 2014, sob a orientação do Prof. João Ferrão, procurou-se indagar o grau de sensibilização da população, dos empresários e dos autarcas quanto à necessidade de mudança de modelo de desenvolvimento e às prioridades da transição.

Nesse estudo, que está publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, identificaram-se como factores consensuais os seguintes:

- a inevitável a alteração do modelo de desenvolvimento socioeconómico e das formas de produção e de consumo prevalecentes;
- o maior conhecimento científico, a melhoria da qualificação dos recursos humanos e o reconhecimento do papel das PME;
- a necessidade de limitar a exploração de recursos finitos;
- a prioridade de alteração dos padrões de trabalho e de vida (trabalhar menos horas e mais tempo livre)

Para além destes aspectos consensuais, cabe notar, porém, que existe diversidade de opiniões entre os três universos constituídos nesta investigação. Em vésperas de eleição autárquica, importa reflectir, sobretudo, nas respostas obtidas junto dos autarcas, as quais levaram os investigadores às constatações seguintes:

- Os autarcas mostraram uma maior propensão para valorizar a importância dos produtos locais, o seu próprio papel na economia e a qualificação das redes e infraestruturas rodoviárias, como factores de construção da economia do futuro.
- As componentes ideológica e pragmática apresentam um maior peso nas respostas fornecidas por este universo, que parece ser também o mais influenciado por discursos “politicamente corretos”.
- Quase 9% dos autarcas não apresentaram qualquer visão alternativa para a economia do futuro;
- 23% defende uma maior liberalização e internacionalização da economia;
- 15% defende uma economia baseada na nacionalização de sectores fundamentais e no forte apelo a um maior proteccionismo e a uma maior regulação dos mercados financeiros.

Na interpretação dos autores, as divergências identificadas nos autarcas podem ser posicionadas em torno dos seguintes aspectos:

i) a (in)capacidade de visionar uma economia diferente;
ii) a oposição ou a articulação entre globalização e localismo;
iii) a oposição entre liberalização económica e proteccionismo;
iv) a importância atribuída a objectivos de equidade social e territorial;
v) a valorização relativa do crescimento económico e da qualidade de vida dos cidadãos como fim último da economia;
vi) a associação a soluções inovadoras de produção e de consumo, próximas de um perfil de valores pós-materialistas.

No geral, os perfis-tipo do universo dos Autarcas parecem ajustar-se menos do que os outros dois universos aos dois discursos de referência (a economia verde e a economia do bem-estar).


Decorreram três anos sobre o estudo realizado o que, dadas as mudanças sociopolíticas, entretanto ocorridas no País, justificaria a actualização da pesquisa em que o mesmo se baseou. Não obstante, a conclusão do mesmo aponta numa direcção inequívoca que importa sublinhar: a necessidade de um reforço de investimento na formação dos autarcas como factor adjuvante da indispensável transição para a economia do futuro.

1 comentário:

  1. Este post de Manuela Silva não pode ser de maior oportunidade. A formação dos autarcas, sim, enquanto servidores da causa pública, devendo estar conscientes da diversidade de desafios para os quais têm que estar preparados. Na relação entre o nacional e o local coloca-se, também, o novo papel que as autarquias são chamadas a desempenhar no domínio da educação e formação de jovens e adultos: será que os autarcas têm já suficiente formação para este aspecto?

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