Para
responder a esta pergunta, reuniu-se um grupo de investigadores, em parceria
com várias Universidades e a Rede Antipobreza, coordenado pelo Professor José
António Pereirinha (www.rendimentoadequado.org.pt). Os resultados do estudo foram apresentados numa
sessão realizada no ISEG, no passado dia 4 de Julho.
De
acordo com os seus autores, “o conceito
de rendimento adequado tem ganho
relevância no debate europeu sobre política social. Várias instâncias
internacionais, e em particular Europeias, reconhecem o direito universal a um
nível adequado de recursos que permita um nível de vida digno, e a necessidade
de um rendimento adequado ser garantido a todos os cidadãos que tenham recursos
insuficientes”.
A
resposta à pergunta acima enunciada foi construída com base num método, já
ensaiado noutros países, através da elaboração de orçamentos de referência para
diferentes tipos de família, que combina o ponto de vista de cidadãos comuns
com a opinião de peritos, naquilo que se poderá designar como um método de
orçamentos consensuais. Para tanto, foram criados “focus groups”, constituídos
por pessoas com características individuais diferentes, que pudessem “partilhar opiniões entre si, reflectir
individualmente, debater em conjunto e obter consensos negociados”. Esta
consulta a cidadãos procurou reflectir diversidade sociodemográfica e
geográfica, tendo todos concordado que “o
mínimo para viver com dignidade na actualidade em Portugal está acima de um
nível mínimo de subsistência”, estando associado também a ”necessidades de
segurança, de afeição, de compreensão, de lazer, de liberdade, de identidade e
de participação”.
Com
base na definição adoptada para padrão de vida digno, os grupos elaboraram uma
lista dos bens e serviços que os diferentes tipos de família necessitam ter ou
deveriam poder aceder. Foi pedido que os participantes centrassem a sua atenção
sobre necessidades e não naquilo que seria desejável ou naquilo que cada um
gostaria de ter (desejos). Recolhidos os preços dos bens e serviços, construíram-se
orçamentos para cada um dos tipos individuais escolhidos segundo a sua
morfologia familiar. Paralelamente, foram feitas consultas a peritos nas áreas da
nutrição, habitação, saúde e energia. Organizaram-se depois grupos de
verificação, com o objectivo de rever e verificar as listas de bens e serviços,
debater e decidir sobre questões suscitadas pelos peritos e tomar de decisões
sobre as economias de escala a considerar na construção de orçamentos
familiares para os tipos de família compostos por mais de um indivíduo. Como
existem diferenças, ao longo do território nacional, relativamente a preços e à
acessibilidade de bens e serviços, foram também organizados grupos geográficos,
com o objectivo de identificar essas eventuais variações.
No
final do processo que aqui foi descrito de forma muito abreviada e
necessariamente incompleta, foram encontrados os orçamentos de referência, a
preços de Abril de 2017. Estes orçamentos, líquidos de impostos directos e que
incluem as despesas de habitação e as despesas com creches e infantários, variam
entre um mínimo de 617 euros para um indivíduo só com 65 ou mais anos e um
máximo de 2212 euros para um casal com 2 filhos de 12 e 2 anos.
Os
valores estimados para o rendimento adequado são superiores não só ao valor do
limiar de pobreza utilizado nas estatísticas oficiais, como aos valores mínimos
implícitos nas medidas de política de rendimentos mínimos (salário mínimo,
rendimento social de inserção e pensão social de velhice e invalidez do regime
geral de Segurança Social), para a maioria dos tipos de morfologia familiar.
Por outro lado, os resultados encontrados relativamente aos vários tipos de
famílias sugerem menores economias de escala do que as implícitas na escala de
equivalência da OCDE, largamente utilizada nos estudos e cálculos ligados às
prestações sociais.
Resta-nos
perguntar se os orçamentos de referência vão merecer o consenso da sociedade
civil, para o que importa não atender apenas aos valores encontrados mas,
sobretudo, olhar para a listagem de bens e serviços que lhes serviram de base. Os
autores do estudo consideram que os resultados encontrados “poderão ser utilizados para equacionar alterações nos valores mínimos
garantidos por diferentes medidas e para diferentes configurações familiares,
de acordo com as prioridades políticas legítimas estabelecidas”
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