A questão, muito controversa, de poder ser instituído
um Rendimento Básico Universal, tem vindo a desencadear um vivo debate acerca
das suas vantagens e inconvenientes e desperta a vontade de conhecer os resultados
das experiências em curso, sobretudo nos países mais afluentes: Finlândia,
França, Itália e Reino Unido.
É precisamente sobre estes quatro casos que a
O.C.D.E. publicou, em Maio deste ano, um Relatório sobre os impactos de um
Rendimento Básico que seria pago, sujeito a impostos, a todos os adultos
em idade activa, em substituição da maior parte dos subsídios em dinheiro, mas
sem substituir os serviços públicos de saúde, educação ou benefícios
relacionados com necessidades especiais.
Os resultados nada animadores a que a
O.C.D.E. chegou têm tradução expressiva no título do seu Relatório: “Basic
Income as a policy option: Can it add up?”
Com efeito, nele se constata não só a incapacidade
do Rendimento Básico Universal (R.B.U.) para reduzir significativamente a
pobreza, como seria pior a situação em que caíriam aqueles que, actualmente,
acedem aos programas de protecção social. Os perdedores seriam não só os mais
ricos, pois o mesmo sucederia aos mais pobres, só os grupos intermédios seriam
ganhadores.
Conclui a O.C.D.E. que sem benefícios
dirigidos a situações específicas, ou sem muito maiores gastos suportados por
um substancial aumento de impostos, o risco de pobreza pode, de facto,
aumentar, na medida em que as pessoas perdem os benefícios actuais a favor do
R.B.U.
Acresce que o que vai sendo conhecido sobre
os resultados do Projecto finlandês, restrito a um rendimento incondicional
para desempregados, tem levantado as maiores dúvidas acerca da sua verdadeira
motivação, admitindo-se[i] que esta seja o incentivo
à aceitação de baixos salários e a empregos de menor produtividade. Também é
importante notar que o governo finlandês, ao mesmo tempo que testava o
Rendimento Básico, tornou mais exigentes os requisitos para aceder aos benefícios
de desemprego, deficiências ou cuidado de crianças.
Apesar desta experiência finlandesa ser muito
limitada, ela permite-nos ficar alertados para questões fundamentais do
Rendimento Básico, entre as quais o risco de ineficácia no combate às
desigualdades de rendimento ou no tocante à atitude das pessoas face ao
trabalho e à qualidade da vida.
Preocupante é também o enfraquecimento
simultâneo da rede pública de protecção social, tanto mais que, face às ameaças
da insegurança, degradação ambiental e desemprego que as novas tecnologias
muito acentuam, cada vez mais se exige das políticas sociais uma resposta
integrada e persistente na sua aplicação.
Sendo certo que, de um dia para o outro, pode
ser decretado (e também rapidamente revogado)
um sistema R.B.U., o mesmo não é
verdade para um complexo sistema de protecção social, construído ao longo de décadas
e que, apesar das restrições financeiras que lhe têm sido impostas, tem jogado
um importante papel de estabilizador automático em tempo de crise, defendendo a
coesão social.
Reavaliar as políticas redistributivas,
promotoras da igualdade e da mobilidade social, à luz da defesa dos direitos
humanos, ameaçados pela mudança societal em curso, é um imperativo que se impõe
se queremos salvaguardar a democracia.
Importa que sejamos capazes de o fazer com
seriedade, sem esconder as dificuldades, mas sem aderir a soluções que só
aparentemente são simples.
[i] Why Finland’s Basic Income Experiment Isn’t Working – by Antti
Jauhiainen and Joona-Hermanni Makinen – The New York Times July 20, 2017
Sem comentários:
Enviar um comentário
Os comentários estão sujeitos a moderação.