Não, não, não
fujam, nem se acomodem! Tomem conta deles, dos robots.
Mas que
conversa! Então em que ficamos? Fugimos ou acomodámo-nos? Vamos ver.
O
progresso tecnológico acelerado tem vindo a permitir a progressiva robotização das
profissões e, por essa via, da sociedade. Funções, que até há muito pouco tempo
considerávamos impensável poderem ser desempenhadas por máquinas, são-no e com
maior precisão executadas por robots (por ex., no domínio das cirurgias).
Diz-se que um grande número de profissões hoje existentes vai se substituída por robots.
Que
a questão é relevante mostra-o, pelo menos, o fato de estar a ser debatida, com
cada vez maior frequência em múltiplos “fóruns”, de que foi exemplo o debate
promovido ontem pela RTP3.
A
introdução da robotização em múltiplas áreas da vida em sociedade surge como
inevitável, como um determinismo que, diz-se, apesar do seu custo inicial (desemprego
em determinados setores e atividades, por ex.) permitirá os maiores benefícios
para todos.
Um
dos maiores argumentos a favor do determinismo é o de que as inovações
robóticas “são precisas”, o que é o mesmo que dizer que existem necessidades
que, por essa via podem ser satisfeitas com maior eficiência e com maior
satisfação. Num mundo cada vez mais global, a concorrência exige que as novas
tecnologias sejam endogeneizadas. Quem não for disso capaz será,
necessariamente, eliminado do mercado. Há custos, em termos humanos e na vida
dos trabalhadores, que não podem ser eliminados, mas a falta de inovação teria
como consequência, no futuro, custos ainda maiores. Temos que nos acomodar e
sempre foi assim desde que há progresso tecnológico. É, em grande medida, o
discurso dominante e dos media.
Embora
seja essa a experiência que o passado nos tem trazido na grande maioria dos
casos, não tem que ser assim, nem temos que nos acomodar. O processo de
inovação tecnológica é, e sempre foi, um processo social, isto é, pressupõe
decisões quanto às opções de inovação que se querem promover e pressupõe decisões
relativamente à apropriação dos resultados que decorrem da implementação dessa
inovação no processo produtivo ou na organização social. Foi assim no passado e
é-o, também hoje, com o processo de robotização. A questão que deve ser
compreendida é a de saber quem são os atores dos processos de decisão.
É
um tremendo erro pensar-se que o processo de inovação é neutro, isto é, surge
como uma inevitabilidade. O processo
de inovação é permanentemente sujeito a decisões; a questão que nos devemos
colocar é a de saber quem toma essas decisões. Quando se defende a
neutralidade, o que se está a admitir, sem o explicitar, é que as decisões que
devem ser tomadas, o sejam por aqueles que, imediatamente, estão a financiar o
investimento, independentemente das consequências que essas decisões possam ter,
ou tenham tido, para a vida da sociedade como um todo.
Ora,
se há consequências relevantes sobre a sociedade como um todo, então esta sociedade,
através dos seus mecanismos de representação, deverá pronunciar-se sobre as
opções em discussão. Se a sociedade se deve pronunciar sobre as opções de
robotização antes da sua implementação, igualmente relevante é que seja parte na
discussão da repartição dos benefícios da aplicação da robotização. Se a
robotização implica custos para a sociedade (para o mundo do emprego), que esta
suporta, então, ela não poderá eximir-se a pronunciar-se sobre a forma como se
processa a repartição dos seus benefícios. Não poderemos continuar a socializar os custos e a privatizar beneficios.
Para
além da repartição dos benefícios materiais há exigências de natureza ética que
não podem deixar de ser tidas em conta.
Quando tanta importância se atribui às exigências ética no mundo da Vida,
não é razoável que no mundo da robotização se atribua maior valor ao robot do
que à presença (à vida) do ser humano.
As
questões acima levantadas devem merecer discussão mais aprofundada e mais
participada e não podem ser deixadas ao mero arbítrio de sacerdotes que hoje,
como ontem, se apresentam como invisíveis e intocáveis.
Sublinho a frase com que o Autor inicia o seu post:
ResponderEliminar"Não, não, não fujam, nem se acomodem! Tomem conta deles, dos robots".
Excelente guia para a acção.Os robots existem, multiplicam-se a velocidade vertiginosa e são cada vez mais inteligentes porque aprendem com o seu próprio agir.
Como torná-los colaborativos (e não competitivos)e éticos (capazes de integrar valores tão básicos como a dignidade do ser humano, a liberdade, a solidariedade ou o bem comum?
A problemáticas novas devem corresponder soluções novas e o debate alargado é um primeiro passo para as encontrar.