16 março 2017

Vêm aí os robots: fujam ou acomodem-se!


Não, não, não fujam, nem se acomodem! Tomem conta deles, dos robots.

Mas que conversa! Então em que ficamos? Fugimos ou acomodámo-nos? Vamos ver.

O progresso tecnológico acelerado tem vindo a permitir a progressiva robotização das profissões e, por essa via, da sociedade. Funções, que até há muito pouco tempo considerávamos impensável poderem ser desempenhadas por máquinas, são-no e com maior precisão executadas por robots (por ex., no domínio das cirurgias). Diz-se que um grande número de profissões hoje existentes vai se substituída por robots.

Que a questão é relevante mostra-o, pelo menos, o fato de estar a ser debatida, com cada vez maior frequência em múltiplos “fóruns”, de que foi exemplo o debate promovido ontem pela RTP3.

A introdução da robotização em múltiplas áreas da vida em sociedade surge como inevitável, como um determinismo que, diz-se, apesar do seu custo inicial (desemprego em determinados setores e atividades, por ex.) permitirá os maiores benefícios para todos.

Um dos maiores argumentos a favor do determinismo é o de que as inovações robóticas “são precisas”, o que é o mesmo que dizer que existem necessidades que, por essa via podem ser satisfeitas com maior eficiência e com maior satisfação. Num mundo cada vez mais global, a concorrência exige que as novas tecnologias sejam endogeneizadas. Quem não for disso capaz será, necessariamente, eliminado do mercado. Há custos, em termos humanos e na vida dos trabalhadores, que não podem ser eliminados, mas a falta de inovação teria como consequência, no futuro, custos ainda maiores. Temos que nos acomodar e sempre foi assim desde que há progresso tecnológico. É, em grande medida, o discurso dominante e dos media.

Embora seja essa a experiência que o passado nos tem trazido na grande maioria dos casos, não tem que ser assim, nem temos que nos acomodar. O processo de inovação tecnológica é, e sempre foi, um processo social, isto é, pressupõe decisões quanto às opções de inovação que se querem promover e pressupõe decisões relativamente à apropriação dos resultados que decorrem da implementação dessa inovação no processo produtivo ou na organização social. Foi assim no passado e é-o, também hoje, com o processo de robotização. A questão que deve ser compreendida é a de saber quem são os atores dos processos de decisão.

É um tremendo erro pensar-se que o processo de inovação é neutro, isto é, surge como uma inevitabilidade. O processo de inovação é permanentemente sujeito a decisões; a questão que nos devemos colocar é a de saber quem toma essas decisões. Quando se defende a neutralidade, o que se está a admitir, sem o explicitar, é que as decisões que devem ser tomadas, o sejam por aqueles que, imediatamente, estão a financiar o investimento, independentemente das consequências que essas decisões possam ter, ou tenham tido, para a vida da sociedade como um todo.

Ora, se há consequências relevantes sobre a sociedade como um todo, então esta sociedade, através dos seus mecanismos de representação, deverá pronunciar-se sobre as opções em discussão. Se a sociedade se deve pronunciar sobre as opções de robotização antes da sua implementação, igualmente relevante é que seja parte na discussão da repartição dos benefícios da aplicação da robotização. Se a robotização implica custos para a sociedade (para o mundo do emprego), que esta suporta, então, ela não poderá eximir-se a pronunciar-se sobre a forma como se processa a repartição dos seus benefícios. Não poderemos continuar a socializar os custos e a privatizar beneficios.

Para além da repartição dos benefícios materiais há exigências de natureza ética que não podem deixar de ser tidas em conta.  Quando tanta importância se atribui às exigências ética no mundo da Vida, não é razoável que no mundo da robotização se atribua maior valor ao robot do que à presença (à vida) do ser humano.

As questões acima levantadas devem merecer discussão mais aprofundada e mais participada e não podem ser deixadas ao mero arbítrio de sacerdotes que hoje, como ontem, se apresentam como invisíveis e intocáveis.

1 comentário:

  1. Sublinho a frase com que o Autor inicia o seu post:
    "Não, não, não fujam, nem se acomodem! Tomem conta deles, dos robots".
    Excelente guia para a acção.Os robots existem, multiplicam-se a velocidade vertiginosa e são cada vez mais inteligentes porque aprendem com o seu próprio agir.
    Como torná-los colaborativos (e não competitivos)e éticos (capazes de integrar valores tão básicos como a dignidade do ser humano, a liberdade, a solidariedade ou o bem comum?
    A problemáticas novas devem corresponder soluções novas e o debate alargado é um primeiro passo para as encontrar.

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