O recente acordo entre a U.E. e a Turquia tem sido
considerado por muitos como um exemplo deplorável de como a política pública
Europeia pode ser capturada por grupos xenófobos e por políticos sobretudo
interessados com a sua reeleição. Vale a pena ler, a propósito, Mehmet Ugur, no
Social Europe de 17 de Março.
Este acordo cobre, essencialmente, três elementos: 1) por
cada refugiado sírio devolvido da Grécia à Turquia, a União Europeia recebe um
pedido de asilo dos sírios da Turquia; 2) o acordo não se aplica a outras
nacionalidades; 3) a ajuda financeira extra à Turquia será de 6 milhões de
euros.
Segundo o Alto Comissariado da ONU para os refugiados e a
Amnistia Internacional, o acordo é moralmente criticável e apresenta contornos
ilegais. De facto, estamos perante a inobservância da Convenção de Genebra de
1951, que providencia um tratamento igual a todos os refugiados que fogem das
zonas de guerra, independentemente da sua nacionalidade, além de que priva os
refugiados na Turquia do direito de serem ouvidos em tribunal. Acresce que a
Turquia tem sido considerada como não respeitando os direitos humanos por
muitas organizações públicas e privadas, o que faz temer pela forma como podem
ser tratados os refugiados, ainda que por um período transitório.
É certo que estamos perante questões difíceis no que se
refere ao acolhimento e integração dos refugiados nos vários países europeus,
dado o enorme afluxo dos que procuram a Europa. Mas as imagens que todos os dias
nos chegam pela televisão sobre as condições a que estão sujeitos os refugiados,
encurralados sobretudo depois do fecho de muitas das fronteiras num número
limitado de países, não foram suficientes para quebrar o egoísmo europeu.
Continuamos sem uma política comum de acolhimento, a qual permitiria repartir os
custos solidariamente por todos.
Será que podemos continuar a falar nos valores da Europa
e na sua suposta superioridade face a outros, depois das atitudes a que estamos
quotidianamente a assistir?
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