12 fevereiro 2016

A desigualdade económica não é só um problema moral

De várias fontes chegam indicadores dando evidência de que, mesmo em tempo de recessão e de austeridade, a desigualdade na repartição do rendimento e na acumulação de riqueza não tem deixado de aumentar.

A concentração da riqueza num número restrito de pessoas atinge hoje níveis inimagináveis, tanto à escala dos países como a nível mundial. Um relatório recentemente publicado pela Oxfam internacional mostra que, em 2014, a riqueza das 85 pessoas mais ricas do mundo (eram 388, em 2010) equivalia à riqueza da metade da população mundial ou seja 3.6 mil milhões de pessoas.
 
Face a tais indicadores, podemos, desde logo, emitir um juízo ético e moral de reprovação, mormente quando se tem em conta que persistem, em todo o mundo, mais de dois mil milhões de pessoas em situação de pobreza extrema, que o desemprego afecta milhões de pessoas, que estão por satisfazer muitas necessidades básicas de um vasto conjunto de seres humanos quando estão por utilizar recursos potenciais desaproveitados, que as remunerações do trabalho não têm evoluído ao ritmo da produtividade e do crescimento económico.
 
Por outro lado, parece também evidente que a excessiva desigualdade constitui um sério entrave à prossecução de objectivos de coesão social no plano nacional e de paz sustentável no plano mundial e que, obviamente, mina os alicerces da democracia.
 
Há, porém, outra ordem de razões que leva a denunciar esta situação de desigualdade.
John Fullerton, em artigo recente, intitulado Regenerative Capitalism aponta 8 princípios críticos para o funcionamento saudável do sistema económico e demonstra que a desigualdade excessiva é um desses factores críticos.
 
Baseando-se na teoria geral dos sistemas, e recorrendo, especificamente, à física dos fluxos, o Autor deste artigo mostra que, se um certo grau de desigualdade é aceitável, a desigualdade excessiva constitui uma perigosa ameaça para um sistema económico saudável, por não assegurar a devida circulação dos fluxos que produzem o necessário equilíbrio das inter-relações humanas que subjazem à economia real.
 
Em qualquer sistema vivo, uma falha na circulação conduz à morte e o equilíbrio é a resultante de factores complementares (o grande e o pequeno, a eficiência e a resiliência, a flexibilidade e os limites) que assegurem a manutenção da circulação.
 
O Autor demonstra que a desigualdade conduz os sistemas económicos ao colapso, porquanto suga o “sangue” da economia real e não permite uma adequada circulação. No seu estimulante artigo analisa o actual sistema financeiro mundial, identifica os seus potenciais riscos sistémicos e aponta medidas de correcção urgente..

O artigo na íntegra pode ser encontrado aqui.

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