Com este título, o Prof. Luigino Bruni publicou, recentemente, um curioso artigo sobre as diferentes economias que coexistem com a economia capitalista e como as características da nova fase do capitalismo irão depender de qual das economias será hoje capaz de "atrair", absorver e valorizar a energia jovem, intelectual e tecnológica que, dentro e fora da "teia" (web) está a brotar.
Trata-se de uma reflexão estimulante, que desoculta realidades plurifacetadas na economia, na vida do trabalho e das empresas, habitualmente subestimadas no ensino da economia e gestão e nos media, mas que revelam dinâmicas próprias. São realidades que atraem, presentemente, a criatividade e a energia dos jovens, sendo de esperar que daí resultem soluções inovadoras para a crise que atravessamos e cujo fim não está à vista. Para incentivar a leitura deste artigo, selecciono, de seguida, algumas passagens do mesmo, em tradução publicada no site do Secretariado da Pastoral da Cultura.:
A nossa economia é composta por, pelo menos, quatro economias diferentes (mesmo se os responsáveis pela política fiscal, pelos incentivos, pelas políticas industriais, continuam a pensar que há só um capitalismo).
A primeira – que pode ainda chamar-se “capitalismo” – é composta por empresas, bancos, companhias de seguros, fundos de investimento, que se constituem exclusivamente para aproveitar oportunidades de lucro ou, o que é cada vez mais frequente, para gerir rendimentos.
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Há, depois, uma segunda economia, feita de empresas que só na forma se assemelham às do primeiro capitalismo. Apercebemo-nos disso logo que entramos nos locais de trabalho e falamos com empresários, gestores e trabalhadores. A cultura que as move é diferente; mais profundo e amplo é o horizonte em que se movem. É o “capitalismo” das empresas familiares.
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Existe também uma terceira economia chamada por vezes, precisamente, "Terceiro Setor". É constituída pela economia cooperativa e social, por organizações sem fins lucrativos, pela finança territorial e ética, pelas empresas de “inspiração ideal” e por todo aquele fervilhar de atividades económicas que brotam do coração da comunidade cristã e da sociedade civil organizada. Floresce dos ideais maiores da economia.
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Mas existe ainda uma quarta economia (e ficamos por aqui, mesmo se poderíamos continuar com a economia pública, a criminal, a subterrânea…). Está criando trabalho, está inovando no campo da designada economia da partilha ("sharing economy") que procura os financiamentos para novas empresas não nos circuitos tradicionais, mas na rede ("crowd-funding") e cresce a um ritmo exponencial. (…) Uma economia de alta intensidade de jovens, muitos dos quais imigrados, onde a procura do máximo lucro não é o primeiro objetivo, porque as prioridades são a sustentabilidade ambiental, a dimensão estética, o gosto pela criatividade coletiva, a alegria de ver territórios doentes e envenenados voltar a florir, a invenção de "Apps" (aplicações) de gestão: não é por acaso que “produtos frescos” em fim de prazo de validade dos supermercados, de desperdício se possam transformar na base da alimentação de muitas casas de gente pobre. Uma nova economia na qual gratuidade e (um certo) mercado convivem e crescem em conjunto.
O capitalismo financeiro-especulativo está a entrar de forma maciça não apenas na segunda economia das empresas familiares, mas, com os poderosos meios de que dispõe e com uma refinada retórica está a ocupar também o Terceiro Setor. A única possibilidade de que estas economias ainda diferentes se possam salvar e crescer é conseguir uma grande aliança com a quarta economia jovem e criativa que se movimenta em novos "ambientes", fala outras "linguagens", pensa, age e imprime a três dimensões.
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