03 julho 2018

Concentremo-nos em olhar para as verdadeiras causas das migrações


É convicção generalizada que a resolução saída da última cimeira da União Europeia sobre a crise migratória é pobre em soluções e levanta dúvidas acrescidas sobre a protecção dos direitos humanos nos centros regionais de desembarque a localizar na Europa e fora da Europa. Tratou-se sobretudo de uma tentativa para satisfazer a Itália e para “salvar” Angela Merkel.

Com efeito, os números respeitantes ao corrente ano apontam para uma entrada na Europa de cerca de 42 mil migrantes indocumentados, o que está muito longe dos valores registados nos anos mais recentes e, em particular, dos verificados em 2015 (1,3 milhões de requerentes de asilo). Por isso, são cada vez mais os analistas que defendem que a actual crise migratória tem mais a ver com as percepções entretanto criadas do que com os números em presença.

De acordo com um estudo realizado para 20 nações europeias (aqui), que explora as relações entre as atitudes face à imigração e factores sociais, “os países com uma percentagem negligenciável de imigrantes são os mais hostis, enquanto os países com maior presença de imigrantes são mais tolerantes”. Sendo assim, pode-se concluir que as atitudes anti imigrantes têm pouco a ver com os migrantes, pese embora o facto que mesmo em países tradicionalmente favoráveis à imigração se começam a detectar movimentos de anti imigração e de extrema-direita.

No espaço deixado em aberto pela ausência de políticas sociais inclusivas e anti austeritárias, surgiram e reforçaram-se os grupos populistas e a retórica anti imigração, tornando os migrantes responsáveis pelos problemas económicos sentidos pelas comunidades. 

A defesa de um maior controlo dos fluxos migratórios assume uma posição dominante, existindo também vozes que argumentam a favor da liberalização deste controlo. Ora, se a crise está enraizada em factores que não estão relacionados com as migrações, qualquer daquelas posições não resolve a situação, argumenta Kenan Malik, no Guardian. Segundo este comentador, um bom princípio de partida é começar por definir a verdadeira questão com que nos defrontamos e para a qual precisamos de respostas. Entre as causas da actual crise, Malik chama a atenção para a falta de confiança nas instituições, o enfraquecimento da coesão social e o desencanto com a política.  

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