Em tempo de grande incerteza quanto ao futuro
da União Europeia, como é o que nos tem acompanhado ao longo dos últimos anos,
são inestimáveis os contributos daqueles que, como Joseph Stiglitz, com a sua larguíssima
experiência e grande competência, ajudam a desencadear um debate sério - e cada
vez mais urgente - acerca do que podemos esperar e qual a nossa capacidade de
manobra.
O livro que Stiglitz acaba de publicar com o
título “The Euro and its threat to the Future of Europe”[1] surge como um antídoto a
ideias erradas que, persistentemente, vão formatando a opinião pública, como a
ilusão de que caminhamos para o fim da crise, sendo para tal apenas necessário
manter políticas de austeridade. De resto, o elevado desemprego e o crescimento
baixo, quando não a depressão, não parecem incomodar certos políticos que
entendem ser um êxito o resultado alcançado com os chamados programas de
ajustamento.
Reconhecendo que são vários os factores
responsáveis pelas dificuldades sentidas na Europa, o que Stiglitz acentua é
que lhes subjaz o erro da criação de uma moeda única, sem ter previsto um
conjunto de instituições que tornassem possível o funcionamento adequado de uma
região europeia diversificada.
O Euro, ao contrário do que era anunciado, falhou
no tocante aos seus dois objectivos principais: prosperidade e integração política,
afirma o autor que, mesmo assim, reafirma a sua convicção de que é possível ter
esperança numa Europa reformada onde os jovens acreditem que os acordos comerciais
não servem exclusivamente os interesses das grandes empresas mas sim interesses
societais mais abrangentes.
Existem então alternativas que podem criar
uma verdadeira prosperidade partilhada, mas, como acentua Stiglitz, elas são
incompatíveis com a ideologia neoliberal que prevaleceu nas últimas três
décadas, assim como com a confusão entre fins e meios: o euro não é um fim em
si mas um meio, o qual, se bem gerido, pode aumentar a prosperidade, caso
contrário levará a níveis de vida mais baixos, possivelmente para a maior parte
dos cidadãos.
Como é inevitável, as reformas requeridas
para uma zona euro que funcione necessitam da solidariedade europeia e Stiglitz
não as considera difíceis, nem do ponto de vista da economia, nem do ponto de
vista institucional.
E se tais reformas não se concretizarem?
Esta é uma possibilidade também admitida por
Stiglitz, que, sem minimizar as dificuldades, sobretudo nos tempos logo após um
“divórcio”, acentua a importância de que este seja tão amigável quanto possível.
Na hipótese de uma partição limitada da zona
euro, é explicado por que motivo poderá fazer mais sentido o abandono por parte
da Alemanha do que a saída dos países da periferia.
A evolução para um ”euro flexível”, em que
diferentes países ou grupos de países teriam o seu próprio euro, com uma certa
margem de flutuação do valor dos diferentes euros, é uma outra alternativa.
Estas breves notas de leitura são, como é
natural, claramente insuficientes para resumir o conteúdo deste livro de
Stiglitz. Os economistas inconformados com um certo optimismo, veiculado pela
errada ideia da ”austeridade expansionista”, nele vão encontrar importante
contributo para a sua análise e tomada de posição.
Muito importante e pertinente este post da Isabel Roque de Oliveira sobre as mais recentes ideias de Stiglitz sobre a Europa e suas fraquezas. É fundamental a insistência no facto de o Euro não servir mais do que como instrumento e não objectivo em si mesmo. Importantíssima a ideia de que uma saída pode estar no "euro flexível", assunto a que também outros autores se vem referindo e a que haverá certamente que se ficar atento. Sim, porque as outras alternativas, segundo Stiglitz, pressupõem a solidariedade europeia num quadro diferente do da economia neo-liberal que nos governa, que urge continuar a demolir mas que resistirá...
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