16 agosto 2016

Sobre o euro e o futuro da União Europeia - um livro de leitura obrigatória.



Em tempo de grande incerteza quanto ao futuro da União Europeia, como é o que nos tem acompanhado ao longo dos últimos anos, são inestimáveis os contributos daqueles que, como Joseph Stiglitz, com a sua larguíssima experiência e grande competência, ajudam a desencadear um debate sério - e cada vez mais urgente - acerca do que podemos esperar e qual a nossa capacidade de manobra.

O livro que Stiglitz acaba de publicar com o título “The Euro and its threat to the Future of Europe”[1] surge como um antídoto a ideias erradas que, persistentemente, vão formatando a opinião pública, como a ilusão de que caminhamos para o fim da crise, sendo para tal apenas necessário manter políticas de austeridade. De resto, o elevado desemprego e o crescimento baixo, quando não a depressão, não parecem incomodar certos políticos que entendem ser um êxito o resultado alcançado com os chamados programas de ajustamento.

Reconhecendo que são vários os factores responsáveis pelas dificuldades sentidas na Europa, o que Stiglitz acentua é que lhes subjaz o erro da criação de uma moeda única, sem ter previsto um conjunto de instituições que tornassem possível o funcionamento adequado de uma região europeia diversificada.

O Euro, ao contrário do que era anunciado, falhou no tocante aos seus dois objectivos principais: prosperidade e integração política, afirma o autor que, mesmo assim, reafirma a sua convicção de que é possível ter esperança numa Europa reformada onde os jovens acreditem que os acordos comerciais não servem exclusivamente os interesses das grandes empresas mas sim interesses societais mais abrangentes.

Existem então alternativas que podem criar uma verdadeira prosperidade partilhada, mas, como acentua Stiglitz, elas são incompatíveis com a ideologia neoliberal que prevaleceu nas últimas três décadas, assim como com a confusão entre fins e meios: o euro não é um fim em si mas um meio, o qual, se bem gerido, pode aumentar a prosperidade, caso contrário levará a níveis de vida mais baixos, possivelmente para a maior parte dos cidadãos.

Como é inevitável, as reformas requeridas para uma zona euro que funcione necessitam da solidariedade europeia e Stiglitz não as considera difíceis, nem do ponto de vista da economia, nem do ponto de vista institucional.

E se tais reformas não se concretizarem?

Esta é uma possibilidade também admitida por Stiglitz, que, sem minimizar as dificuldades, sobretudo nos tempos logo após um “divórcio”, acentua a importância de que este seja tão amigável quanto possível.

Na hipótese de uma partição limitada da zona euro, é explicado por que motivo poderá fazer mais sentido o abandono por parte da Alemanha do que a saída dos países da periferia.

A evolução para um ”euro flexível”, em que diferentes países ou grupos de países teriam o seu próprio euro, com uma certa margem de flutuação do valor dos diferentes euros, é uma outra alternativa.

Estas breves notas de leitura são, como é natural, claramente insuficientes para resumir o conteúdo deste livro de Stiglitz. Os economistas inconformados com um certo optimismo, veiculado pela errada ideia da ”austeridade expansionista”, nele vão encontrar importante contributo para a sua análise e tomada de posição.


[1] Editado pela Allen Lane, Penguin Random House group em 2016 - ISBN 978-0-241-25815-6

1 comentário:

  1. Muito importante e pertinente este post da Isabel Roque de Oliveira sobre as mais recentes ideias de Stiglitz sobre a Europa e suas fraquezas. É fundamental a insistência no facto de o Euro não servir mais do que como instrumento e não objectivo em si mesmo. Importantíssima a ideia de que uma saída pode estar no "euro flexível", assunto a que também outros autores se vem referindo e a que haverá certamente que se ficar atento. Sim, porque as outras alternativas, segundo Stiglitz, pressupõem a solidariedade europeia num quadro diferente do da economia neo-liberal que nos governa, que urge continuar a demolir mas que resistirá...

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