28 julho 2016

A ameaça de um futuro sem emprego

Foram hoje divulgados os indicadores de emprego e de desemprego em Portugal e, como é habitual, somam-se os comentários contraditórios.
 
Para uns, vamos no bom caminho porque a taxa de desemprego recuou umas décimas de pontos percentuais e o índice de emprego conheceu também ligeiro aumento. Antes assim do que se a tendência fosse a inversa… Contudo, poderemos dar-nos por satisfeitos?
 
Para outras opiniões, o que mais importa é dar conta de que mais de meio milhão de pessoas em idade activa procuram emprego e não o encontram e outras há, que as estatísticas não revelam, que se vêem constrangidas a aceitar empregos precários, mal remunerados e sem correspondência com as suas qualificações ou, em alternativa, deixam o país na tentativa de encontrarem perspectivas de futuro melhor. Até quando?
 
De Londres chega a notícia de que um banco de grande importância no mercado e com elevados lucros anuncia o despedimento de três mil postos de trabalho no futuro próximo com o argumento de que os mesmos não se justificam, dado o progresso da revolução tecnológica em curso. Procedimentos similares têm sido adoptados em bancos portugueses que recentemente se reestruturaram e estão anunciados despedimentos vultuosos no banco público e em outros bancos do sistema bancário nacional. Que consequências societais decorrerão destes despedimentos massivos?
 
O que está a acontecer na banca é paradigmático de uma realidade mais ampla que, mais cedo ou mais tarde, atingirá todos os sectores de actividade, por efeito conjugado da robotização e da digitalização. É incontornável que, num futuro não muito distante, muitos dos actuais empregos serão, pura e simplesmente, destruídos, por se tornarem obsoletos e desnecessários.
 
Queiramos ou não, espreita-nos a ameaça de um futuro sem emprego. É este, aliás, o sub-título do livro Robôs de Martin Ford, um empreendedor de Silicon Valley que em 4 centenas de páginas recheadas de informação factual nos desvenda os meandros da revolução em curso e, indirectamente, nos remete para a necessidade imperiosa de repensar o lugar do emprego entre os fundamentos das sociedades da civilização ocidental.
 
Estará a nossa sociedade preparada para antecipar o impacto da Revolução Industrial em marcha? Têm, os nossos governantes e políticos, providenciado, no sentido da construção de estratégias de médio prazo e definidas medidas de transição?
 
Entendo que é urgente envolver as universidades numa missão de investigação prospectiva ao serviço da economia e da sociedade, na óptica do bem comum e da coesão social, que responda, entre outras, a questões tão centrais como as seguintes:
 
a)- Quais os empregos do futuro e a qualificação necessária para o desempenho dos mesmos? Que impactos na educação das novas gerações e da população adulta?
 
b)- Que reformas estruturais são indispensáveis para assegurar uma partilha mais justa dos actuais empregos na fase de transição (duração e horários de trabalho, critérios de remuneração, flexibilização e conciliação com responsabilidades familiares ou outras…)?
 
c)- Que regras estabelecer para assegurar uma apropriação equitativa dos expectáveis ganhos de produtividade decorrente da inovação tecnológica?
 
d) Que princípios e normas de responsabilização das empresas face aos stakeholders, incluindo a sociedade como um todo, devem ser estabelecidos?
 
e)- Que políticas de inserção social e de participação na sociedade se devem adoptar em substituição dos empregos pedidos?
 
f)- Como prevenir e conter a desigualdade e os consequentes riscos de implosão social inerentes à inovação tecnológica processada em contexto de globalização e de financeirização da economia?

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