31 maio 2016

A percepção de bem-estar em Portugal - resultados do European Social Survey 7

Os últimos dados da sétima edição do Inquérito Social Europeu (European Social Survey, ESS7), contendo já informação sobre Portugal, estão disponíveis desde 26 de Maio último (ver aqui).

Neste Inquérito procura-se “medir”, tanto quanto possível, dimensões difíceis de aperceber como as percepções, as expectativas e os comportamentos individuais relativamente a domínios de extrema complexidade como, por exemplo, o bem-estar individual e social, a confiança na justiça ou a “avaliação” do estado da democracia. Através de uma metodologia de relativa complexidade e que não deixa de sublinhar as limitações inerentes, torna-se possível comparar os resultados para Portugal e outros Estados Membros (EEMM) relativamente, por exemplo, à percepção subjectiva de bem-estar. Não se justificando desenvolver aqui a análise crítica da relação entre bem-estar e desenvolvimento económico, relembramos apenas o ganho de importância da dimensão bem-estar a partir de abordagens de referência como a de Stiglitz, Sen e Fitoussi (2009)[1].

Constata-se então que em Portugal a percepção subjectiva média de bem-estar é extremamente baixa, ocupando o nosso país o 5º pior lugar entre os 28 EEMM. A decomposição do índice compósito que preside àquela ordenação revela-nos que as duas dimensões críticas na percepção de bem-estar no nosso país são a segurança económica e a coesão social: os desvios em relação à tendência média dos 28 EEMM são respectivamente iguais a -4,24 e -3,96, contra valores correspondentes de -2,01 e -3,16 para a Itália, único EEMM da Europa do Sul que nos acompanha nestes resultados. Ao mesmo tempo, é entre nós que se verifica o mais elevado gap de género na percepção de bem-estar (http://esswellbeingmatters.org/).

Ainda no domínio da percepção de bem-estar é interessante considerar as opiniões sobre o papel do Estado e o grau de satisfação com o seu desempenho. No que respeita ao primeiro aspecto, encontramos o nosso país no grupo de EEMM que mais defende a intervenção pública, enquanto que relativamente à apreciação do desempenho do Estado na promoção do bem-estar Portugal desce significativamente na escala ordenada de EEMM.

De entre as múltiplas potencialidades de análise destaca-se ainda a possibilidade de se construírem perfis por EEMM quanto à percepção de bem-estar individual e social. Tais perfis decorrem das medidas relativas a oito dimensões axiais: optimismo (positive feelings), confiança e sensação de pertença, rede de relações pessoais, atitude positiva, resiliência e auto-confiança, vitalidade, satisfação com a vida e (ausência) de pessimismo (negative feelings). No caso português, são a rede de relações pessoais e a resiliência e auto-confiança as dimensões com maior peso quando em comparação com a Áustria, Finlândia e Hungria, enquanto que a satisfação com a vida e a ausência de negative feelings constituem as principais dimensões críticas entre as oito consideradas (http://www.europeansocialsurvey.org/docs/findings/ESS1_5_select_findings.pdf).




[1] Stiglitz, J. E., Sen, A., Fitoussi, J. (2009). Report by the Commission on the Measurement of Economic Performance and Social Progress. [Online]

1 comentário:

  1. Os indicadores apresentados deveriam merecer um debate alargado acerca das eventuais causas da situação que reflectem e motivar a construção de uma visão prospectiva acerca das políticas necessárias para as superar.

    ResponderEliminar

Os comentários estão sujeitos a moderação.