Dia após dia, vamos assistindo à sucessão de
notícias, maioritariamente catastrofistas, sobre as negociações em curso entre
o governo da Grécia e as três instituições europeias que bem conhecemos.
O prolongar da incerteza sobre o futuro
daquele país não só tem consequências certamente muito difíceis de suportar
pelas populações que tão sacrificadas foram já pelas severas medidas de austeridade,
como irá repercutir-se além fronteiras.
E não teria de ser esta a situação se
prevalecesse a vontade de encontrar uma solução justa por parte daquelas
instituições, em vez de persistirem em exigências de reformas de aceitação problemática.
De facto, as divergências de opinião entre os
credores parecem enormes: o chefe do Departamento Europeu do FMI, Poul Thomsen,
terá afirmado, segundo o The Guardian de ontem, que as reformas que estão a ser
impostas a Atenas, em troca de um financiamnto de 7,2 mil milhões de euros,
deveriam ser simplificadas e reduzidas, enquanto que o Ministro alemão (Schaüble) e o Comissário
Europeu para os Assuntos Económicos e Financeiros (Moscovici) insistem numa lista detalhada de reformas.
Ao mesmo tempo, o Ministro das Finanças do Reino
Unido, George Osborne chamou a atenção para que a situação de impasse nas
negociações coloca um risco sério e imediato para a economia global.
Acresce que se há aspectos específicos da
situação grega, certo é que, depois de 2008 e em todo o mundo, o problema da
dívida excessiva e do seu crescimento imparável a ritmo superior ao do PIB, provocará
situações de incapacidade de reembolso, com gravidade não menor.
Esta previsão deveria, só por si, ser
mobilizadora de credores e devedores para encontrarem formas de o resolver
atempadamente, em negociações conduzidas de boa fé acautelando a coesão social
e salvaguardando a capacidade de desenvolvimento futuro.
Não parece que tal esteja a ser levado a
sério e, para muitos analistas credenciados, o risco de novas crises
financeiras é real: a supervisão e a regulação financeira não oferecem
garantias de se sobreporem aos interesses dominantes, é notória a assimetria de
informação e de partilha de riscos entre credores e devedores, está por
encontrar uma forma de estimular o crescimento económico que permita libertar,
tanto as famílias como os governos, da sua dependência de elevados níveis de
endividamento.
A forma como tem vindo a ser tratado o caso
grego, alimenta o cepticismo crescente acerca da capacidade dos governos e das
instituições comunitárias para equacionarem e resolverem em conjunto o problema global das
dívidas excessivas, pois quando não se apaga bem um incêndio é bem possível um
reacendimento ou a repetição do mesmo cenário em outro local da floresta.
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