18 abril 2015

Quem apaga o fogo na Grécia?



Dia após dia, vamos assistindo à sucessão de notícias, maioritariamente catastrofistas, sobre as negociações em curso entre o governo da Grécia e as três instituições europeias que bem conhecemos.

O prolongar da incerteza sobre o futuro daquele país não só tem consequências certamente muito difíceis de suportar pelas populações que tão sacrificadas foram já pelas severas medidas de austeridade, como irá repercutir-se além fronteiras.

E não teria de ser esta a situação se prevalecesse a vontade de encontrar uma solução justa por parte daquelas instituições, em vez de persistirem em exigências de reformas de aceitação  problemática.  

De facto, as divergências de opinião entre os credores parecem enormes: o chefe do Departamento Europeu do FMI, Poul Thomsen, terá afirmado, segundo o The Guardian de ontem, que as reformas que estão a ser impostas a Atenas, em troca de um financiamnto de 7,2 mil milhões de euros, deveriam ser simplificadas e reduzidas, enquanto que o  Ministro alemão (Schaüble) e o Comissário Europeu para os Assuntos Económicos e Financeiros (Moscovici) insistem numa  lista detalhada de reformas.

Ao mesmo tempo, o Ministro das Finanças do Reino Unido, George Osborne chamou a atenção para que a situação de impasse nas negociações coloca um risco sério e imediato para a economia global.

Acresce que se há aspectos específicos da situação grega, certo é que, depois de 2008 e em todo o mundo, o problema da dívida excessiva e do seu crescimento imparável a ritmo superior ao do PIB, provocará situações de incapacidade de reembolso, com gravidade não menor.

Esta previsão deveria, só por si, ser mobilizadora de credores e devedores para encontrarem formas de o resolver atempadamente, em negociações conduzidas de boa fé acautelando a coesão social e salvaguardando a capacidade de desenvolvimento futuro.

Não parece que tal esteja a ser levado a sério e, para muitos analistas credenciados, o risco de novas crises financeiras é real: a supervisão e a regulação financeira não oferecem garantias de se sobreporem aos interesses dominantes, é notória a assimetria de informação e de partilha de riscos entre credores e devedores, está por encontrar uma forma de estimular o crescimento económico que permita libertar, tanto as famílias como os governos, da sua dependência de elevados níveis de endividamento.

A forma como tem vindo a ser tratado o caso grego, alimenta o cepticismo crescente acerca da capacidade dos governos e das instituições comunitárias para equacionarem  e resolverem em conjunto o problema global das dívidas excessivas, pois quando não se apaga bem um incêndio é bem possível um reacendimento ou a repetição do mesmo cenário em outro  local da floresta.

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