17 setembro 2014

Queremos Ter os Melhores Professores

Fica bem a um Ministro da Educação fazer esta afirmação de princípio. É que, sem bons professores, não é possível assegurar um bom ensino e uma educação de qualidade às novas gerações, sendo que essa é uma das tarefas primordiais do Estado português.
 
Cabe, porém, perguntar se o actual sistema educativo e as recentes políticas de educação, que vêm sendo postas em prática pelos últimos governos, visam, de facto, atingir aquele objectivo nuclear. Ou, se, pelo contrário, constituem obstáculo e, no limite, impedimento à sua concretização.
 
É público e notório que o presente ano lectivo iniciou-se de forma insatisfatória e no meio de protestos de pais e comunidades locais que reclamam que lhes não seja retirado o direito de verem assegurado um ensino de proximidade aos seus filhos de menos idade.
 
Por outro lado, a colocação de professores não foi feita atempadamente: as colocações foram conhecidas na véspera do início das aulas, com total desrespeito pela vida pessoal e familiar dos professores contratados, muitos dos quais obrigados a mudar de residência e a proceder a ajustamentos familiares daí decorrentes. Também os critérios que presidiram às colocações, ao que parece, não respeitaram critérios básicos de justiça e equidade.
 
As crianças com necessidades educativas especiais ainda aguardam a colocação de pessoal técnico especializado nos respectivos agrupamentos.
 
É notória a falta de pessoal auxiliar em muitos estabelecimentos, alguns dos quais, por esse facto, não puderam dar início ao ano lectivo.na devida data.
 
Entretanto, os professores de quadro vêem-se sobrecarregados com cargas horárias stressantes e incompatíveis com um ensino de qualidade (professores com 5 níveis de ensino, por exemplo, com turmas de trinta alunos, incluindo crianças com necessidades educativas especiais), distribuídas por escolas distintas que, por vezes, os obrigam a percorrer alguns kilómetros de distância entre elas,  sujeitos a presença física na escola de 40 horas, mas sem condições para aí realizar o trabalho pessoal de preparação de aulas ou a concepção e avaliação de provas, etc..
 
 Acresce que, no actual modelo de gestão, a atribuição dos horários é prerrogativa das direcções dos agrupamentos que, não raro, usam deste poder de maneira persecutória e prepotente, pondo em causa condições justas de vida pessoal e profissional de alguns docentes.
 
Se, realmente, se deseja ter os melhores professores, então há que tomar, com urgência, medidas concretas de melhoria do sistema educativo. Por exemplo, estas:

•    que se ponha termo aos mega agrupamentos (por dimensão excessiva de alunos e/ou elevadas distâncias entre as escolas agrupadas, o que os torna ingovernáveis, com perda de identidade dos docentes em relação aos mesmos, predominância de relações de anonimato em detrimento de relações pessoais, etc);
•    que se regresse, quanto antes, aos concursos nacionais de professores com regras claras de acesso e de progressão na carreira e possibilidades de ordenação inequívoca de todo o corpo docente nacional;
•    que se proceda ao descongelamento da carreira docente;
•    que se altere o paradigma de gestão autoritária que, actualmente, preside aos agrupamentos e se adopte uma gestão democrática que integre uma relevante participação e responsabilização do corpo docente;
•    que se criem condições de relacionamento e apoio às famílias dos alunos, através de equipes técnicas multidisciplinares de modo a valorizar a educação e o papel dos professores/educadores ;
•    que se promova uma adequada desburocratização da supervisão institucional que, presentemente, se traduz na realização de inúmeras tarefas inúteis e consumidoras de tempo, substituindo plataformas informáticas asfixiantes por uma inspecção geral criteriosa regular.

Por último, importa  lembrar que a missão do professor/a e educador/a é uma tarefa eminentemente pessoal, de relação com os seus alunos e de relação interpares, que exige condições de realização pessoal, actualização de conhecimentos e formação contínua, bem como o reconhecimento do valor desta profissão por parte das famílias, do Estado e da sociedade em geral.




1 comentário:

  1. Esta frase - "Queremos ter os melhores professores" - que o Ministro da Educação tanto repete, poderia ter um objectivo interessante se a realidade não a desmentisse.
    Na realidade os que nos (des)governam querem ter os professores mais baratinhos! Querem reduzir despesas, despdindo professores ou propondo-lhes rescisões, para contratar mão-de-obra cada vez mais precária e barata! Nunca olharam para a Educação como um investimento. A sua política educativa insere-se asssim num processo de alienação de responsabilidades, já que encaram os pilares do Estado Social como fardos que é preciso desmantelar.
    A utilização de umas frases bonitinhas, fofinhas e muito giras serve um único propósito: alimentar a ilusão de que se está a defender os interesses da maioria dos portugueses, servindo-os bem e com a colaboração dos melhores.
    Depois é ver como os "opinadores" os ajudam, aprimorando o discurso sem fundamento, mas inflamado e pronto a "queimar" os professores,
    [ Aqui por exemplo ]

    A mim, esta frase "Queremos ter os melhores professores", faz lembrar os produtores de cereais e de gado dos sécs. XVIII - XIX que apuravam sementes e raças de animais... Também eles, numa lógica de mercado, queriam ter os melhores produtos! Quanto às pessoas e às condições de trabalho... a conversa era outra.

    Também já pensei em lançar uma campanha com um lema inspirador:
    "Queremos ter os melhores ministros!"

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