23 abril 2012

É possível um SNS com mais qualidade


Publicou o jornal Público de hoje um interessante depoimento do Presidente do Conselho para a Qualidade da Saúde, Dr. Luís Campos.

De facto, as questões que aborda, por se referirem à qualidade dos serviços hospitalares, não podem deixar de ser debatidas pelos profissionais do sector e suas organizações, já que são evidentes as falhas que afectam a vida de todos nós.

São numerosos os exemplos apresentados de medidas que deveriam ser postas em prática, para que se alcançasse melhor qualidade de serviços, desde mudanças ao nível da organização, no combate ao desperdício, no aumento da produtividade, na elaboração e aplicação de normas de orientação clinica, no prevenir de erros nos actos praticados nos hospitais, na melhor integração de diferentes níveis de cuidados e, finalmente, na avaliação das mudanças que vão sendo feitas no sector da saúde.

De entre as situações passiveis de melhoria, em relação às quais existe uma grande preocupação na sociedade, ressalta a das listas de espera para cirurgia, que seriam eliminadas se cada cirurgião do SNS fizesse apenas mais duas e meia cirurgias por mês, para além da actual média de 8! (e enquanto tal não sucede, sabemos que aumenta o recurso a cirurgias no sector privado, por vezes com encargos para o estado).

Outro problema é o dos erros e acidentes que ocorrem em meio hospitalar, com consequências humanas por vezes graves, para além de gerarem maiores custos no sistema de saúde. E afinal, segundo o autor, ”a simples utilização de uma check list antes de cada cirurgia, permitiria reduzir a taxa de complicações de 27% para 16% e a mortalidade operatória para quase metade”. Também o ganho potencial na redução de infecções adquiridas nos hospitais permitiria poupar muitas vidas e 282 milhões de euros por ano.

São números assombrosos! E, quando a reforma da rede hospitalar ganha justificado protagonismo na opinião pública, é importante que estas questões da qualidade não sejam minimizadas: a boa organização hospitalar e uma gestão responsável, com um horizonte de avaliação no médio prazo, e enquadrada por normas adequadas, são objectivos que podem realisticamente ser conseguidos, desde que se mobilizem todos os actores relevantes, como é próprio de uma sociedade democrática.

 E não se diga que existe aí um obstáculo financeiro, pois, citando o autor, “tratar bem é sempre mais barato do que tratar mal”. Então será possível conter, a prazo, a despesa na saúde, sem prejudicar padrões de qualidade.

O que não desejamos é que continue a prevalecer a preocupação de cortar o orçamento no SNS, como se daí viesse a resultar a sua viabilidade financeira, ignorando os custos humanos e económicos de tal política.

2 comentários:

  1. Ainda bem que este tipo de alerta vem de um alto responsável pela qualidade da saúde. Talvez a sua voz se faça ouvir junto dos profissionais do sector e mobilize a classe a rever o seu comportamento à luz de critérios de eficiência e de ética de bem servir. Mas também acredito que a divulgação deste tipo de conhecimento através da comunicação social há de mobilizar os cidadãos e os seus representantes eleitos para a necessidade de uma profunda mudança de mentalidade que coloque as pessoas e o bem comum no centro dos seus objectivos individuais e colectivos.

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    1. Também li o artigo em causa e, tal como a dra. Manuela Silva, também eu acredito na capacidade de mobilização dos cidadãos através de opiniões tão conhecedoras como a do Dr. Luis Campos, divulgadas na comunicação social.

      A propósito não posso deixar de referir o programa "Prós e Contras" de ontem, pelas opiniões justas e contundentes que alguns intervenientes apresentaram quanto às injustiças sociais e à desigualdade profunda que esta política de miséria está a gerar. Acho que caiu fundo na consciência de muitos ouvintes!

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