28 fevereiro 2012

Eles não sabem de que falam

Foi preciso vir a Portugal um prémio Nobel de economia para que os órgãos de comunicação social nacionais prestassem atenção ao seu discurso e dessem conta de que têm vindo a propalar um conjunto de ideias erradas nas suas leituras acerca das causa próximas da crise que afecta o País e aceitassem pôr em causa a bondade das medidas austeritárias que estão a ser seguidas, deixando de as apresentar como “inevitáveis”.

Numa linguagem clara e elegante a que nos habituou, Paul Krugman sustenta que os países da periferia estão a ser vítimas de um conjunto de pressupostos que não encontram suporte nos factos e nos dados estatísticos que os representam. Não é por causa de um estado social generoso que os países se endividaram e perderam competitividade, ao contrário da tese Republicana que antevê o fracasso do estado de bem-estar e defende o seu desaparecimento ou da tese germânica que faz depender a crise do descontrolo das contas públicas e de um endividamento excessivo dos estados. Ver aqui.
Analogamente, não pode imputar-se a níveis de salários excessivamente elevados a falta de competitividade da economia nacional e, consequentemente, não é por uma política de dura contenção salarial e desvalorização do trabalho humano que se prepara o indispensável relançamento da economia.
Para Krugman, no actual contexto político, é muito estreita a porta de saída, pois a questão essencial que importa enfrentar é, fundamentalmente, de natureza monetária, sendo que as autoridades nacionais que aderiram à moeda única estão agora prisioneiras de um quadro institucional desajustado às reais necessidades das economias mais fragilizadas. Trata-se de uma evidência inegável. Mas, nem as instituições europeias querem reformar-se e mudar de estratégia, nem a desvinculação da moeda única encontra suporte político por parte das lideranças nacionais dos países em dificuldade para enfrentar riscos de consequências, de facto, imprevisíveis.
A tese Krugmaniana não difere de análises já feitas em anteriores posts publicados neste blogue. Falta-lhe, porém, ir para além do quadro teórico em que se inscreve e integrar a dimensão institucional da economia.

Num país como Portugal, onde estão por satisfazer necessidades básicas incluindo a criação de oportunidades de emprego, é razoável optar por uma estratégia de desenvolvimento sustentável construído a partir da base, com a valorização dos recursos disponíveis, recursos naturais mas também recursos humanos.
Num país como Portugal, onde as desigualdades são gritantes e têm vindo a aumentar, é urgente eleger como objectivo da política económica, a correcção das desigualdade e a erradicação da pobreza
Num País como Portugal, em que é reduzida a dimensão em território e população, é possível tirar partido da pequenez para pôr em marcha programas de desenvolvimento diversificados e ajustados a cada realidade local que concorram para o bem-estar e aqualidade de vida das pessoas.
O que precisamos mesmo é de um outro modelo de economia.

1 comentário:

  1. "...tirar partido da pequenez...". Quando a maioria dos economistas fala de "potencial de crescimento" da economia do país, não entra em linha de conta com as potencialidades de "programas de desenvolvimento...ajustados a cada realidade local...". Esses da maioria só falam de factores de competitividade, alguns ainda referem sectores de actividade "prometedores" prometedores.Há exemplos, felizmente, dos tais programas ajustados à realidade local. Mas falta a divulgação e discussão para que a credibilidade de alternativas se comece a instalar na cabeça das pessoas, passe para o discurso e opinião pública.

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