02 junho 2011

A Eurozona sob Fogo Cruzado e a Dívida Portuguesa

Num artigo ontem publicado no Finantial Times, o reputado economista Martin Wolf equaciona, com grande acuidade e dramatismo, as escolhas que, presentemente, se colocam aos decisores da eurozona.

Trata-se de mais uma voz qualificada que vem pôr em evidência a camisa de onze varas em que o sistema financeiro europeu se encontra, incapaz de fazer face à crise bancária e financeira e suas sequelas nos países que partilham a moeda única.

Os princípios que regem o Banco Central europeu e de modo geral toda a arquitectura do sistema monetário europeu não permitem responder nem às necessidades de financiamento da economia real nem fazer face aos défices das contas públicas com que se defrontam muitos dos países da União.

A ausência de um mecanismo de último recurso associado à falta de uma política económica comum entrega aos mercados a provisão das necessidades de financiamento das economias (Estado e particulares) mais endividadas, com pesadas consequências quanto ao custo do dinheiro por parte dos devedores e ao agravamento dos riscos de recuperação desses créditos por parte dos credores. Não serve nem a uns nem a outros.

Acresce que as regras de livre circulação monetária dentro da eurozona, dada a forte desigualdade da situação em que, presentemente, se encontram os distintos sistemas bancários e financeiros nacionais, pode ainda provocar fugas de capital das economias mais expostas ao risco para as mais sólidas, agravando a posição de fragilidade das primeiras.

Assim sendo, Martin Wolf não hesita em afirmar que a eurozona está hoje confrontada com duas opções intoleráveis: a sua falência total ou pelo menos a dissolução parcial ou, em alternativa, a criação de um suporte oficial de último recurso ilimitado.

Na opinião de Martin Wolf, um tal dilema prova que a União não se poderá manter com a sua actual arquitectura a menos que se encontre uma integração financeira mais profunda e um mais amplo suporte fiscal do que o inicialmente previsto.

Num tal contexto, não parece desrazoável manter em aberto a necessidade de uma futura renegociação da dívida portuguesa.

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