17 fevereiro 2011

Desenvolvimento a Partir de Baixo

Em post anterior neste blogue, Mário Murteira pôs a nu o abismo que existe entre os debates e concertações que se encenam nos fora internacionais acerca das estratégias para vencer a crise e a realidade chã de quem vive o dia a dia na luta pela subsistência e por encontrar lugar na sua economia local.

Sem pretender minimizar o potencial alcance dos esforços que estão sendo empreendidos no plano nacional e comunitário com a chamada Estratégia Europa 2020, presentemente objecto de debate, considero da maior oportunidade chamar a atenção para uma indispensável descida ao terreno, às necessidades reais das pessoas concretas, aos recursos potenciais que aguardam condições favoráveis ao seu aproveitamento, a começar pelo emprego dos recursos humanos.

Já em outro lugar escrevi sobre este tema, pondo em destaque o potencial da economia social e do desenvolvimento local enquanto vias alternativas para sair do impasse em que nos encontramos. Cf. Economia Global e Gestão, nº 2, 2009

Então dizia: A uma crescente globalização há que contrapor um reforço da economia de base, que tenha em conta a valorização dos recursos localmente disponíveis, que muito provavelmente passarão despercebidos à economia globalizada e à competitividade a nível mundial, bem como tirar partido de um maior conhecimento das necessidades reais de uma dada população num dado território de molde a melhor ir ao encontro dessas necessidades.

É no local que hão de florescer as empresas de economia social ou de economia solidária por duas razões principais: porque é a esse nível que se encontra um maior capital social imaterial (confiança, responsabilidade, solidariedade); porque, pela natureza dos seus fins, operam em sectores (prestação de cuidados, por exemplo) mais abrigados da concorrência no plano mundial.

O desenvolvimento local torna-se, assim, uma oportunidade que deve merecer a atenção dos economistas e dos políticos, como saída para a presente crise e a edificação de uma nova arquitectura económico-financeira.

2 comentários:

  1. Em tese, a sua análise faz-me todo o sentido e merece-me a maior simpatia. Mas suscita-me também uma perplexidade que não consigo ultrapassar: então o capitalismo é obrigatório e o cooperativismo proibido ? Que é que em concreto impede as pessoas de se organizarem localmente para dar resposta às suas necessidades ? Quando, por exemplo, se verificam situações de pobreza e desemprego em meios rurais onde proliferam terrenos agrícolas abandonados, o que impede as pessoas de se associarem de alguma forma para resolverem localmente uma parcela qualquer das suas necessidades alimentares ?
    Falei da produção de bens alimentares mas poderia ter falado da cooperação para cuidar dos velhos ou das crianças. Para a não existência de melhores ou mais diversificadas politicas de incentivo às economias locais, concedo que se pode encontrar uma miríade de explicações. O que tenho maior dificuldade em entender são as razões que têm levado as pessoas e as comunidades a abdicar da sua autonomia.

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  2. Agradeço o seu comentário. Tem razão no que diz, mas só parcialmente, creio.
    Em princípio, de facto, nada impede que a autonomia, o empreendorismo social, a cooperação floresçam e se orientem para a melhor valorização dos recursos potenciais de um dado território em função da maior satisfação das necessidades. Mas, se não existir um enquadramento favorável e incentivador de par com uma renovação de mentalidades, presumo que não haverá desenvolvimento e mudança social dignos desse nome. Há excepções mas são poucas ...

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