21 julho 2021

Não burocraticamente...


A expressão que mais me chamou a atenção quando Angela Merkel, numa das zonas mais afectadas pelas catastróficas cheias, se referiu à necessária e urgente ajuda, foi “dar a ajuda imediata não burocrática” (sublinhado meu), pois tudo se deve fazer para que o dinheiro “chegue depressa às pessoas”, e acrescentava: “eu espero queseja uma coisa de dias”. Claro que a reconstrução e especialmente das infraestruturas exige muito mais tempo que dias ou semanas.

Nesse órgão de comunicação social alemão, onde vi a reportagem ontem, dizia-se que hoje, quarta-feira, 21 de Julho, o governo decidiria sobre o programa financeiro de ajuda imediata. E assim foi. Hoje, no mesmo órgão de comunicação social pude ler, às 13h30, que praticamente uma semana depois das devastadoras cheias, o governo federal decidiu as ajudas imediatas para as regiões afectadas pelas cheias, conforme anunciou o ministro das finanças Olaf Scholz (SPD). Para começar, 400 milhões de euros (metade do governo federal e a outra metade a gerir pelos estados federados atingidos). E também ele falava no “não burocraticamente” ao dizer “faremos tudo o que é necessário”. A mesma mensagem foi dada pelo ministro do interior, Seehofer (CDU) : “trata-se de apoiar pessoas que perderam completamente tudo”.

Bem, poderá dizer-se: mas onde está a novidade?, não é a Alemanha um país rico, muito longe dos problemas de dívida de países como Portugal? Aliás, nem admira que a nossa comunicação social não fale disto.

O ponto é que não se trata apenas da rapidez de resposta. É que o “não burocraticamente” implica não só a consciência da necessidade absoluta em que se encontram as pessoas, nem mesmo de que a catástrofe é já uma consequência das alterações climáticas (como acentuou o ministro Scholz), implica também que se confia nos cidadãos, ao não fazer depender a ajuda da “prova de necessidade” (como mostra o ministro do interior Seehofer) perante perdas evidentes. Daqui a Portugal a distância já não é da dimensão de quilómetros, é da capacidade de afastar a burocracia quando a necessidade é evidente.

1 comentário:

  1. Muito oportuna chamada de atenção. O click está em saber perceber que, em tempo de catástrofe, mesmo que a burocracia permitisse evitar gastos não justificados, ela, pela sua natureza e pelo simples facto de intervir, ao introduzir maiores tempos de decisão e não dando resposta a problemas de tão só de sobrevivência, vai causar prejuízos incomparavelmente superiores aos que seriam evitados com a burocracia. E estou a falar da "boa burocracia" ! . . . Não podemos esquecer que a burocracia tem uma componente de "organização", o que é bom, mas tem, também, a perniciosa componente do poder do pequeno tiranete. É necessário valorizar a primeira e perseguir a segunda

    ResponderEliminar

Os comentários estão sujeitos a moderação.