15 novembro 2018

Aeroportos - É necessário e urgente governar para as pessoas

1. De há pelo menos três ou quatro décadas para cá que, ao contrário do que os grandes interesses e seus servidores nos pretendem convencer, o modelo económico ainda vigente (altamente consumista, propenso ao descartável e irresponsável), vem progressivamente degradando as condições de vida e bem-estar das populações, incluindo mesmo as das denominadas classes médias. Realidade esta bem patente, por exemplo, na forma como tem evoluído a concentração da riqueza, em que hoje apenas 0,5% da população é detentora de quase metade do património material mundial. Outra realidade bem mais preocupante, e também esta apenas um exemplo, é a de que desde 1969 a reserva de água doce no planeta diminuiu para metade. Segundo o último relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) vai ser necessário cortar mais de 50% nas emissões de gases com efeito de estufa até 2030. É inevitável uma transição rápida para uma economia pós-carbono, sob pena de acabarmos de vez com as condições de vida na Terra.
 
2. Por outro lado, a defesa do maior estuário da Europa ocidental, o estuário do Tejo, enquanto zona húmida de importância internacional e zona de protecção especial de aves selvagens, constitui um imperativo inquestionável. Como é igualmente imperioso salvaguardar a qualidade de vida de mais de 100.000 pessoas da cidade de Lisboa, já hoje afectadas por congestionamentos, ruídos e poluição do ar (em boa parte provocados pelo tráfego aéreo) e todas as demais consequências na sua saúde. Praticamente o mesmo se poderia dizer dos concelhos limítrofes, entre eles o Montijo, Moita, Barreiro, Seixal e Alcochete. Em resumo, a região de Lisboa é hoje uma área sobrecarregada, superpovoada e poluída e em muitos aspectos esgotada. É perante este quadro desolador que o governo vem anunciar a intenção de permitir a ampliação do Aeroporto Humberto Delgado e a construção de um novo na base aérea do Montijo e respectivos acessos rodoviários. Um dispêndio que, a tomar como base a recente evolução do tráfego aéreo, daria origem à necessidade de um novo aeroporto daqui a 12 ou 15 anos !
 
3. O Aeroporto Internacional de Beja dispõe de uma capacidade aeroportuária equivalente a dois terminais de Lisboa – Portela, é o único do continente a poder receber aeronaves de tipo A 380, situa-se entre dois aeroportos que carecem de capacidade (Lisboa e Faro) e fica relativamente perto da costa vicentina e do Alqueva e, segundo se pode ler no site da ANA – Aeroportos de Portugal “este terminal de passageiros, de carga e de manutenção de aeronaves está preparado para receber todo o tipo de operações com um elevado nível de eficiência”. Está construído e disponível e custou cerca de 33 milhões de euros : é um imperativo nacional rentabilizá-lo e potenciar a região em que se insere. É também uma excelente oportunidade de o governo provar que a apregoada prioridade ao interior não se limita ao discurso oficial. Podemos acrescentar que nem todos os passageiros que desembarcam em Lisboa têm Lisboa como destino e a tendência, cada vez mais acentuada, dos fluxos turísticos é para o denominado turismo ecológico, procurando ambientes simultaneamente culturais, calmos, recuperadores de períodos desgastantes. Para além de outras regiões igualmente aprazíveis, Portugal tem no Alentejo (33% do território do continente) uma zona de excelência, deste ponto de vista. E a diversificação dos pólos de atracção turística faz-se através de campanhas de promoção das regiões.
 
4. Sabemos que o governo tem que lidar com um contrato em que o seu antecessor hipotecou por 50 anos a gestão do sector, através da venda da ANA à multinacional francesa VINCI e que esta quer auferir aqui o que não conseguiu em Notre Dame des Landes, graças à oposição das esclarecidas populações locais. Sabemos também que os operadores turísticos estão pouco interessados em Beja, mas as leis do mercado também servem para adaptar a procura à oferta, neste caso jogando com as taxas aeroportuárias e investindo na rede ferroviária que aqui, ao contrário da região de Lisboa, ainda é elegível para fundos comunitários.

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