30 julho 2018

Políticas públicas: bem comum ou gestão negociada de interesses privados?

Transcrevo duas passagens do artigo de Viriato Seromenho Marques publicado no último DN (29 Julho) com o título Como se não houvesse amanhã, um bom pretexto para deixar ao leitor/a uma pergunta oportuna: por onde anda a coerência entre a retórica e a realidade nas políticas públicas?

As alterações climáticas colocam um desafio a que os nossos sistemas políticos dificilmente responderão com sucesso. As nossas democracias representativas há muito que substituíram a demanda do bem comum, com as reformas inerentes, para se concentrarem numa gestão negociada dos interesses de grupos e corporações existentes. John Rawls acusava o Congresso dos EUA de ser hoje o lugar onde as leis são compradas e vendidas. As democracias perderam a densidade que só a noção de progresso histórico permite conferir às políticas públicas.
(…)
A retórica do combate às alterações climáticas é desmentida pelas concessões às companhias petrolíferas, como a da próxima prospecção ao largo de Aljezur. Na energia discute-se o preço esquecendo a sustentabilidade. No mar também impera o extractivismo. A política pusilânime com os interesses instalados acabará por ceder ao império da realidade. Mas da pior maneira e ao maior custo.

Outros exemplos recentes reforçam a convicção de que é relevante e urgente desenvolver uma cidadania esclarecida e crítica, que exija da politica (e dos políticos!) a prossecução activa e coerente do bem comum e do desenvolvimento sustentável.

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