Neste seu livro, Economia do bem comum, que acaba de ser editado em português, Jean Tirole, Prémio Nobel da Economia de 2014, oferece ao leitor um guia para um melhor entendimento do que é (pode ser!) a ciência económica enquanto disciplina do saber e da sua maior ou menor adequação para enfrentar os desafios que a economia real coloca às nossas sociedades e aos seus respectivos actores e decisores políticos.
No decurso das quase quinhentas páginas da edição em português, o Autor mantém um fio condutor, uma interrogação basilar: O que aconteceu à procura do bem comum? E em que medida pode a economia contribuir para a sua realização?
Não é fácil definir o bem comum, mas a dificuldade em si não legitima que se desista de alguma via de aproximação; pior seria abandonar a questão dos fins da economia e da ciência económica e fazer desta uma mera investigação acerca da interpretação dos factos e das lógicas que lhes subjazem.
Insistindo na procura do bem comum, este professor de Toulouse assume que a economia não documenta e analisa apenas os comportamentos individuais e colectivos, aspira igualmente a tornar o mundo melhor, oferecendo recomendações de política económica.
Focada no objectivo do bem comum, a ciência económica estará melhor posicionada para enfrentar os grandes problemas da economia real: a globalização, a sustentabilidade, a revolução tecnológica, a digitalização, a desigualdade, a pobreza e a exclusão social. Por outro lado, estará mais defendida da armadilha de pseudo fins (o mercado, o Estado, a propriedade privada, a liberdade individual…), assumindo-os, antes, como meios de prossecução de um bem colectivo sustentável.
Escrito em linguagem acessível a todos, este primeiro livro de Jean Tirole destinado a um público abrangente, preenche, a meu ver, três objectivos principais:
- É um excelente contributo para colmatar uma grande lacuna de literacia económica dos cidadãos em geral, que os torna presa fácil de discursos ideológicos e suscita, não raro, comportamentos políticos indesejáveis;
- Constitui uma provocação para os economistas de profissão, tanto no sector público como no sector privado, no sentido de adequarem as suas ferramentas de conhecimento à busca de melhores soluções para os problemas reais, na perspectiva do bem comum;
- Vem desafiar os investigadores e professores da disciplina para uma séria e consequente autocrítica acerca do pensamento que produzem e divulgam na sociedade bem como para a formação dos estudantes de economia, designadamente pela integração de saberes de outras áreas disciplinares.
De notar, ainda, que perpassa em todo o livro, uma perspectiva optimista e esperançosa, como, aliás, o próprio autor reconhece: A minha mensagem é optimista. Explica as razões pelas quais não existe qualquer fatalidade nos males de que padecem as sociedades: existem soluções para o desemprego, para as alterações climáticas, para o desmoronamento da construção europeia. Explica, além disso, como realçar o desafio industrial e como garantir que os bens e serviços estejam ao dispor do público e não dos rendimentos dos accionistas e dos funcionários da empresa. Mostra como regular a finança, os grandes monopólios e o próprio Estado, sem fazer descarrilar a máquina económica ou negar o papel do Estado na organização da sociedade.
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