07 fevereiro 2016

Opinião Pública versus Propaganda



A aprovação, pela União Europeia, do projecto de Orçamento de Estado para 2016, marcou o fim de um período de grande incerteza quanto ao possível desfecho das negociações, tão arreigada estava na opinião pública a ideia de que não havia alternativa à política seguida pelo último governo e de que qualquer mudança seria desbaratar os frutos (aliás de má qualidade) dos sacrifícios suportados pelos portugueses ao longo dos últimos cinco anos.

A ideia de que o pior estava ultrapassado e se abria um horizonte de progresso, alimentada com algumas  promessas de última hora, conquistou largas franjas da população, tendo estas, acríticamente, absorvido a mensagem mediática que lhes foi persistentemente dirigida - com notável eficácia, há que reconhecer.

O que temos pela frente são tempos difíceis que só podem ser enfrentados com êxito se se tornar claro que as opções de política governamental vão obedecer ao desígnio de promover uma sociedade mais justa e inclusiva, conquistando para tal a adesão dos agentes capazes de para ela contribuírem, num processo que nunca estará verdadeiramente concluído.

Temos presente que vivemos numa sociedade de informação, em que a tecnologia permite o transporte rápido de grande massa de informação e também dispõe da possibilidade de influenciar o pensamento dominante, o  que prejudica a capacidade crítica das pessoas e das organizações e o seu  empenhamento nas políticas públicas, sobretudo se estas não servem o seu interesse imediato.

Instrumental do progresso social será então permitir que floresça uma opinião pública genuína, ou seja, uma opinião imune à instrumentalização por grupos poderosos e capaz de formar juízos críticos independentes e esclarecidos, como é próprio de uma sociedade democrática.

À propaganda simplista de falsas verdades - tão perigosa quanto eficaz - há que passar a contrapor a exigência de informação rigorosa e o debate livre na sociedade civil, para que esta seja um instrumento de defesa do bem - comum, sem se deixar prender na armadilha dos pequenos e dos  grandes interesses.

Da Comunicação Social espera-se que cumpra com ética a sua função, com independência face a grupos poderosos que sempre podem comprar mais tempo de publicidade a seu favor.

1 comentário:

  1. È particularmente relevante e oportuna a reflexão feita neste post por Isabel Roque de Oliveira. Ainda ontem um deputado aproveitou um tempo nobre de antena para fazer passar a ideia (falsa) de que o OE 2016 previa a maior carga fiscal de sempre, alertando os seus ouvintes para os riscos de se virem a perder os tão bons(?!!!) resultados alcançados por políticas anteriores. Em que dados fundamentou esta afirmação? Saberá o senhor deputado que a apreciação de uma qualquer fiscalidade depende dos fins a que se destinam os impostos e do modo mais ou menos equitativo com que se obtêm as receitas? Este exercício de ojectividade é fundamental para construirmos uma sociedade mais justa e solidária.Face à complexidade da situação, de todos os líderes políticos, governo e oposição, como também da comunicação social, se exige rigor, transparência e objectividade de análise e positividade das suas propostas.

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