27 junho 2015

É tão simples quanto isto! (I)

Este é o fim-de-semana de todos os fins-de-semana. Todos estamos a fazer figas para que as coisas “corram bem”.
Correr bem é, para uns esperar que os gregos levem uma valente sova e se venham ajoelhar de corda ao pescoço, junto dos chamados “credores”, admitindo as suas culpas e jurando nunca mais vir a cometer as afrontas que durante tanto tempo ousaram fazer contra quem tem o dinheiro e, por isso, manda.
Para outros, correr bem é ver reconhecido pelas “instituições” (pelos donos do dinheiro) que o governo do Syriza tem legitimidade para representar o povo grego junto das instâncias internacionais e, dentro dessa legitimidade, tem capacidade para escolher o caminho que há-de levar a Grécia a ultrapassar os complexos problemas com que se debate (que não são apenas os da dívida pública), ainda que para isso tenha que respeitar regras legítimas do funcionamento das instituições financeiras internacionais.
Neste corre-corre, no fim, não vão todos ficar igualmente satisfeitos. Como que nos vamos encontrar em algum bailarico dos santos populares, ou na deposição de velas em algum dos seus altares, esperando que as trombetas toquem e anunciem o pregão. Depois, uns continuarão a festa e outros regressarão a casa maldizendo os deuses.
O corre-corre só tem como justificação a consciência de que “esta coisa” da Grécia tem a ver com nós todos e poderá vir a ter consequências sobre as nossas carteiras, mesmo que não saibamos, exatamente, o que é que se passa.
Haverá razão para não sabermos o que é que se passa? Há!
A razão imediata é a de que a matéria em discussão tem alguma complexidade e, sem o apoio de médiuns, só os especialistas poderão aspirar a ter alguma compreensão do que está em causa. Os que o não são deveriam poder socorrer-se do oráculo dos médiuns, mas o que acontece é que estes andam muito falsificados e deixaram de cumprir o que deles era de esperar. Nas sociedades modernas este esclarecimento deveria ser, em grande medida, cumprido pelos meios de comunicação social, mas não é isso o que vemos acontecer. Os seus agentes comportam-se como crianças que ao receberem prendas ficam entretidas com os desenhos do papel de embrulho e deixam de lado o conteúdo principal da prenda.
Sobre o assunto escrevem jornalistas, pronunciam-se opinion-makers, discorrem comentadores e chega-se ao fim e dizemos: mas afinal onde é que estes senhores querem chegar? As explicações não explicam coisa nenhuma e chega-se ao fim tão esclarecido como se estava no início, ou até menos.
Para esta falta de capacidade de explicação só há duas razões possíveis: a ignorância ou a existência de uma agenda de interesses, política, ou ideológica, que tem exatamente isso como propósito. Nalguns casos as duas razões também podem andar de mão dada. E, afinal, não é impossível mostrar que as coisas, retiradas das suas roupagens opacas, são afinal suscetíveis de ser mostradas transparentes e compreendias por todos nós.
Vejamos o contexto. Antes da chegada do Syriza ao poder o relacionamento das autoridades gregas com as instâncias internacionais degradou-se de tal forma que se veio a aceitar que os ministros gregos pudessem receber instruções emitidas pelos funcionários da troica, por simples mensagem de correio eletrónico. Em boa hora o governo do Syriza entendeu recusar-se a aceitar estes procedimentos e exigiu que o relacionamento fosse colocado ao nível dos mais altos representantes das instituições: outros governos, ministros, presidentes, etc. E esta sua exigência foi adotada como modo de relacionamento normal. A partir de agora, o que quer que venha a acontecer, já não voltará a ser como dantes.
E vamos aos factos, como soí dizer-se. A situação encontra-se submetida à maior dramatização. Os gestores de emoções criam ambientes em que tanto parece que se está na presença de um acordo imediato como, poucas horas depois se declara que tudo se esfumou.
Tanto as instituições, como o governo grego, parece terem já consensualizado que é objetivo comum a redução do deficit público. Onde divergem é no modo de o conseguir. Os gregos entendem que, enquanto Estado soberano, possuem legitimidade para determinar o caminho para lá chegar; as instituições consideram que aquele objetivo só pode ser prosseguido, com sustentabilidade, se o caminho trilhado for o da austeridade.
Ao longo dos últimos meses penosas negociações têm vindo a ser realizadas, com resultados que aproximam as posições de ambas as partes. Inicialmente, as instituições as instituições entendiam que a única estratégia admissível era a da redução da despesa, por via da diminuição dos salários e das pensões. Os gregos privilegiavam uma estratégia de aumento da receita, por via do aumento dos impostos e da promoção do investimento, argumentado que a via austeritária (redução da despesa) já tinha provado não poder conduzir à obtenção dos resultados desejados.
E agora onde estamos? No post abaixo farei o ponto da situação.

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