12 junho 2015

E se fosse possível eliminar a pobreza e reduzir as desigualdades?



O tema da pobreza e das crescentes desigualdades tem vindo a suscitar fundada preocupação, pelo que tal significa de injustiça social mas também  por constituir  entrave ao crescimento económico e à estabilidade política.

Não é pois de admirar que, no debate que se vai adensando, confluam não só opiniões de quem coloca na primeira linha de prioridades a defesa de uma forma de progresso económico compatível com o bem-estar colectivo e a justiça social, como também daqueles que, porventura menos identificados com aqueles valores, receiam que a  degradação da coesão social resultante do capitalismo desregulado, possa vir a por em causa a sobrevivência deste sistema.

A opinião pública, em particular no Sul da Europa, que poderia estar algo adormecida enquanto era expectável ter emprego e uma razoável protecção social, começa a dar sinais de intranquilidade e, mesmo, de revolta, por força de bruscas e severas alterações nas suas condições de vida.

Assim sendo, os detentores do poder vão tendo cada vez maior dificuldade em fazer aceitar como conjunturais as desigualdades de riqueza e de rendimento, enquanto novas formações e movimentos políticos vão sendo criados, em alguns casos com risco para a própria democracia.

Independentemente das motivações que os possam inspirar, importa estarmos atentos aos contributos que vão surgindo, com mais frequência no meio académico, para uma tomada de consciência da dimensão do problema da pobreza e das desigualdades e da urgência em  fazer-lhe face .

Se para alguns a prioridade deve ser a mudança de mentalidades, onde se encontra um certo fatalismo na aceitação daqueles problemas, sem dúvida uma tarefa difícil e de longo prazo, para outros, sem negar a necessidade desse caminho,  podem (e devem) ser, desde já, postas em prática medidas capazes de combater as desigualdades bem como o recrudescer da pobreza.

Merece aqui  ser destacada a posição defendida por Sir Anthony Atkinson, cujos trabalhos, ao longo de décadas, muito têm contribuido para uma abordagem científica das causas e da dimensão do fenómeno das desigualdades.

Num registo que alguns podem chamar de optimista, este autor defende, para o Reino Unido, a adopção de um conjunto de medidas para reduzir as desigualdades, englobando, nomeadamente, maior progressividade fiscal, alargamento da base tributável para abranger heranças acima de certo montante, elevação do salário mínimo, apoio de rendimento a famílias com crianças, remuneração garantida para pequenas poupanças, empregos garantidos pelo Estado, incentivos a empresas para que inovem de forma  a promoverem  o emprego.

Atkinson atribui também muita importância a iniciativas autárquicas, por exemplo no governo das cidades ou das empresas, com impacto na redução das desigualdades, valorizando a mudança de atitudes que elas reflectem, para além dos montantes envolvidos.

Recordando os factos que o terão influenciado no interesse em orientar o seu trabalho para o campo das desigualdades, Atkinson refere, numa recente  entrevista, que serviu como voluntário, no início da década de 60, num hospital alemão muito carente de condições . A publicação em 1965 de um livro sobre a pobreza, “The Poor and the Pooerest” do “Child Poverty Action Group” teve também um grande impacto nas suas opções.

É esta abertura de espírito que hoje vemos em certos meios académicos ou organizações da sociedade civil, que alimenta a esperança de poder contagiar o poder politico, tão insensível ele tem sido perante a crescente pobreza e desigualdades em Portugal.

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