O erro que foi a opção pela política de austeridade na zona euro, como
resposta à crise desencadeada em 2008, é uma evidência que se impõe cada vez mais com o passar do
tempo.
De facto, está demonstrada a incapacidade de
assim se resolverem os problemas dos países mais fortemente endividados, dados
os efeitos recessivos que a austeridade provoca e agrava, com impacto extremamente negativo
sobre as condições de vida das populações, afectadas pela pobreza, o desemprego
e por
crescente insegurança e descrença no futuro.
Acresce o impacto da austeridade sobre o enfraquecimento
dos apoios sociais do Estado, os quais, em tempo de crise, deveriam antes ser
reforçados.
O que se anuncia para a Europa é uma
estagnação prolongada e mesmo, especialmente para alguns países de economia
mais frágil, um longo período de depressão, a menos que seja abandonada a política
económica centrada na austeridade e encarada, com determinação, a necessidade
de reestruturar a dívida.
É certo que os obstáculos são de monta e,
para serem ultrapassados da melhor forma, deveriam poder contar com uma visão
esclarecida acerca das causas da crise na
Europa e com a vontade de a resolver, de forma coordenada e solidária: tudo o
que não se vê acontecer.
A passividade perante este estado de coisas
não é seguramente uma opção defensável, tanto mais que se conhecem políticas
alternativas à austeridade, apresentadas por conceituados economistas,
preocupados com a necessidade de evitar uma insuficiência crónica da procura. Paul
Krugman tem insistido neste ponto, como
muitos outros académicos.
Martin Wolf, em artigo publicado no Financial
Times on-line de 25 de Novembro “Radical cures for unusual economic ills”, partilha
dessa ideia e apresenta algumas das soluções possíveis, entre as quais uma
redistribuição do rendimento onde existe excesso de poupança, e advoga a
promoção do consumo em vez da sua penalização pela via fiscal. Uma outra
questão para este economista é o risco de reformas laborais orientadas para a
oferta, através de reduções de salários e mais facilidade em despedimentos, o
que acaba por ter reflexos negativos no consumo.
Mas o tempo passa e constatamos que estas
sensatas chamadas de atenção para os efeitos perversos da austeridade e a
apresentação de alternativas esbarram com uma teimosa persistência no erro
por parte das forças políticas dominantes na Europa, por vezes em contradição
com a ideologia com que dizem identificar-se.
Wolfgang Münchau em “Radical Left is right
about Europe’s Debt” publicado no Financial Times, on-line de 23 de Novembro sintetiza
bem esta questão quando escreve que a tragédia actual da zona euro é o sentido
de resignação com qual os partidos do poder, quer do centro esquerda quer do centro direita, estão
a permitir o deslizar da Europa para o equivalente a um “inverno nuclear”,
enquanto apenas os partidos da esquerda
radical aparecem como apoiantes de políticas
sensatas, tais como a reestruturação da dívida. A ascenção do novo partido espanhol
(Podemos) é apresentada como prova de que existe procura para uma política
alternativa naquele país.
É forçoso prestar atenção a que algo de muito
errado está a suceder com o descontentamento crescente dos europeus em relação
às principais forças políticas que os têm governado, pois estas não têm mostrado
vontade ou determinação para enfrentar o
poder hegemónico da Alemanha, país que continua a ditar a política económica
europeia, em que a força do mercado a tudo se sobrepõe.
A resignação, neste caso, não é uma virtude
que se deva louvar, antes um pecado por omissão.
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