Não está revogada a Lei de
Bases do Sistema Educativo promulgada em 1986 na qual se definem os princípios
e as traves mestras do sistema educativo em Portugal.
Contudo, os sucessivos
governos no domínio da educação foram introduzindo, por via meramente administrativa
e regulamentar, alterações que estão ao arrepio daquela lei fundamental e a vão
desfigurando.
Estamos, agora, perante mais
uma situação, a somar ao que já sucedeu com a gestão democrática das escolas, os
mega agrupamentos, a falta de apoios às crianças com necessidades especiais,
etc..
Os jornais acabam de
noticiar que o Ministério de Nuno Crato vem avançando com a municipalização do
ensino público, através de contractos celebrados ou a celebrar com algumas Autarquias,
os quais transferem para a responsabilidade destas a gestão dos edifícios
escolares, a contratação de professores e a selecção dos cursos a ministrar.
Trata-se de uma verdadeira aberração
à luz dos princípios da Lei de Bases do Sistema Educativo que, inequivocamente,
comete ao Estado, através de um Ministério específico, a responsabilidade por
assegurar o acesso e o sucesso da educação em condições de igualdade de
oportunidades para todos: “É da especial
responsabilidade do Estado promover a democratização do ensino, garantindo o
direito a uma justa e efectiva igualdade de oportunidades no aceso e no sucesso
escolares” (art. 2, n.2).
A desresponsabilização do Estado,
a nível da Administração Central, através da atribuição da função de educação das
novas gerações às Autarquias abre caminho ao caciquismo, à corrupção e à
partidarização do corpo docente e não garante, como lhe compete face à
Constituição da República, o direito de acesso e sucesso à educação com
igualdade de oportunidades para os cidadãos e cidadãs. Os critérios de financiamento
invocados, por seu turno, introduzem factores de disfuncionalidade na qualidade
do ensino que, só por si, são preocupantes. Refiro-me em particular a prémios
em função da redução do número de professores!!!
Sindicatos e outras organizações
já vieram a público denunciar esta política que já provou ser errada mesmo
quando aplicada em países com tradição democrática mais consolidada, como foi o
caso do Reino Unido ou da Suécia.
O Governo, porém, mantem-se
surdo a estas críticas e prossegue no seu élan devastador do papel do estado
social, desmantelando estruturas que, carecendo porventura de aperfeiçoamentos,
já deram boas provas na melhoria do nível de educação das novas gerações e sua
qualificação.
A opinião pública não pode
silenciar este forçado empobrecimento colectivo. Até quando?
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